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Fiscalização depois do gole: mortes por metanol expõem reação tardia contra mercado de bebidas falsificadas

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Fiscalização depois do gole: mortes por metanol expõem reação tardia contra mercado de bebidas falsificadas

Após cinco vítimas em São Paulo, operações foram deflagradas em todo o país — inclusive na Bahia, onde uma fábrica foi fechada e 600 garrafas apreendidas

Fiscalização depois do gole: mortes por metanol expõem reação tardia contra mercado de bebidas falsificadas

Foto: João Valério/Gov-SP

Por: Daniela Gonzalez e Ismael Encarnação no dia 09 de outubro de 2025 às 11:55

Essa matéria é parte da reportagem especial publicada originalmente no Jornal Metropole em 9 de outubro de 2025

As linhas de investigação sobre as mais de 200 suspeitas e cinco mortes causadas por metanol são muitas, mas quase todas passam por fábricas clandestinas, como nos casos dos anos 1990, quando mais de 60 pessoas morreram na Bahia após ingerir bebida alcóolica contaminada. A diferença nessas quase três décadas é que, se antes havia falha na produção de bebidas baratas ou até adulteração deliberada para reduzir os custos, agora há também um outro lado da moeda: os vendedores que compram bebidas falsificadas para aumentar o lucro - o que não é tão incomum assim.

Estima-se que mais de um terço dos destilados (tipo que causou as intoxicações) comercializados no Brasil seja falsificado, segundo dados do “Anuário da falsificação”, publicado pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) se posicionou sobre o tema e lamentou que a falta de fiscalização acabe transformando o setor em suspeito. “Nenhum dono de bar ou restaurante agiria de má-fé sabendo dos riscos”, diz a entidade, que classificou a falsificação como um ataque também a “empresários sérios, que perdem clientela e reputação por causa de produtos adulterados que entram no mercado sem controle”.

Linhas de investigação: de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, já são mais de 259 notificações de intoxicação por metanol após ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas: 24 delas já confirmadas e as outras 235 com investigação em andamento. As linhas de investigação vão de envolvimento do crime organizado à falha na produção. Veja aqui

Cerco atrasado

Só agora o cerco apertou sobre os clandestinos. Dada a repercussão da coisa, polícias civis de todos os estados, vigilâncias e uma série de órgãos colocaram em prática “operações de emergência”. Em Salvador, por exemplo, 600 garrafas foram apreendidas em dois dias por irregularidades e uma fábrica de uísque adulterado foi notificada.
Até a Câmara dos Deputados quis surfar na onda e quer agora votar um Projeto de Lei de 2007 que torna a falsificação de bebidas alcoólicas um crime hediondo. 

Um pouco tarde para um segmento que trabalha silenciosamente e vem crescendo ano após ano - e não só nos rincões do interior baiano. Na internet, é fácil por exemplo encontrar tampas e garrafas vazias de bebidas destiladas sendo vendidas em e-commerces para falsificação.

Em 2024, 80 fábricas foram fechadas no Brasil, quase uma a cada cinco dias. Na Bahia, há pelo menos dois casos recentes, em 2019 e 2021, quando foram fechadas a fábrica da bebida Gengibre Veneza foi fechada no oeste do estado e uma unidade de produção de licor no bairro de Cassange em Salvador.

O Ministério da Agricultura, responsável por essa fiscalização, foi acionado pela reportagem para mais informações sobre fábricas clandestinas no estado, mas não deu retorno até o fechamento desta matéria.

O massacre baiano: a intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas não é algo novo. Nos anos 1990, mais de 60 pessoas morreram na Bahia após ingerir bebida contaminada, os casos não tiveram tanta repercussão até chegarem, neste ano, a bairros de elite em São Paulo. Veja aqu