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Em tempos de ataques à ciência, pesquisadores da Bahia figuram entre os mais influentes do mundo
Produdução científica baiana ganha destaque internacional e reafirma o papel social da universidade

Foto: Sandra Travassos/ Metropress
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 13 de novembro de 2025
“As universidades são caras e têm a ver com politicagem, ideologização e balbúrdia”. Quem dera ouvir novamente a palavra “balbúrdia” sem lembrar desses absurdos ditos pelo Ministro da Educação escolhido pelo então presidente (e atual réu por tentativa de golpe de Estado y otras cositas más) Jair Bolsonaro. Não têm sido tempos fáceis para os que fazem ciência no Brasil. E ainda assim, 107 pesquisadores brasileiros estão entre os que mais influenciam políticas públicas e tomadas de decisão mundo afora. Quatro deles, revela o relatório inédito Bori-Overton publicado no início de novembro, estão filiados a universidades baianas.
A maior parte dessas pesquisas foi citada em decisões sobre Ecossistemas e Uso da Terra, o que coloca o Brasil na centralidade do debate ambiental global. Não à toa, nosso email encontrou alguns deles a caminho da COP30, que acontece neste momento em Belém, no Pará. Maurício Lima Barreto, um dos responsáveis pela criação do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba – de excelência reconhecida internacionalmente –, acredita numa produção científica feita em colaboração direta com a comunidade. “A universidade não é um castelo separado da sociedade, mas é parte dela. É importante essa demonstração”, afirma.
Em outras palavras, a ciência produzida no Brasil têm influenciado ações concretas, capazes de promover mudanças reais para o povo. Blandina Felipe Viana, professora do Instituto de Biologia da Ufba e mencionada em pelo menos 250 documentos, encontra nesse reconhecimento o senso de dever cumprido, mas faz questão de lembrar que “é fruto de muitas parcerias, de trabalhos em rede, no respeito e na responsabilidade. Ninguém constrói nada sozinho”.
Desigualdades que resistem
Os desafios enfrentados não são poucos. A escassez de recursos, a dificuldade de manter financiamento, a sobrecarga e um mercado de trabalho altamente competitivo fazem parte da rotina, num cenário de negacionismo. O relatório da Bori-Overton também evidencia algumas desigualdades importantes. Além da concentração em universidades do eixo sul--sudeste, de uma lista de 107 cientistas citados, apenas 22 são mulheres.
Juliana Hipólito, citada em mais de 200 documentos estratégicos, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma) e professora na Ufba, se tornou mãe no ano que terminou o doutorado e essa coincidência transformou sua trajetória de forma significativa. “Já fui excluída de convites para colaborações e trabalhos precisamente porque ‘tinha meu filho para cuidar’, como se a maternidade fosse incompatível com excelência científica”, confessou. Já Blandina Felipe Viana sente que é preciso se esforçar o dobro para ser levada à sério – mesmo quando se ocupa cargos e posições de poder dentro da academia, numa área em que mais da metade dos cientistas são mulheres: “percebo desigualdades sutis no reconhecimento e nas oportunidades”.
A verdade é que, enquanto houver ataques à democracia, haverá ataques à universidade. Se o pensamento livre e a reflexão crítica são entendidos como balbúrdia, que a Bahia continue no centro dessa confusão.
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