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Relatório aponta 13 fazendeiros baianos como financiadores de atos golpistas
Documento produzido por pesquisadores de observatório do agronegócio brasileiro com base nos inquéritos do Supremo e investigações da PF e Abin cita 142 produtores rurais de todo o país envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro
Foto: Agência Brasil
Produzido pelo observatório independente do agronegócio no Brasil De Olho nos Ruralistas a partir dos inquéritos do Supremo e de investigações conduzidas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Polícia Federal (PF) sobre o 8 de Janeiro, o recém-lançado relatório "Agrogolpistas" aponta 13 grandes produtores rurais da Bahia como integrantes do núcleo de 142 fazendeiros de todo o país que financiaram a tentativa de golpe em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Todos os nomes do agro baiano citados no documento possuem empresas conhecidas no setor e vastas extensões de terra em cinco cidades do Oeste do estado, maior polo agrícola do Nordeste: Barreiras, São Desidério, Formosa do Rio Preto, Correntina e Luís Eduardo Magalhães.
Frota do golpe
Dos 13 fazendeiros do estado citados pelo observatório, 11 aparecem como donos de caminhões usados nos bloqueios de rodovias no Mato Grosso, Goiás e Bahia em novembro de 2022, cujo objetivo era cortar o abastecimento em Brasília, facilitar a eventual ação de militares e dar suporte logístico ao acampamentos montado em frente ao quartel-general do Exército na capital federal. Entre eles, está o empresário Gilson Denardin. Dono de uma transportadora que forneceu três veículos de carga para os golpistas responsáveis pelo quebra-quebra na Praça dos Três Poderes logo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele é membro da Família Denardin, proprietária de mais de 30 mil hectares de terra no Oeste baiano e fornecedora de algodão para gigantes globais do agronegócio, como a Glencore e a Louis Dreyfus.
Clãs do Oeste
Outro sobrenome exposto no relatório é o da família Walker, liderada pelos irmãos Elton, Vilson e Luiz, que enviaram cinco caminhões à Brasília, todos pertencentes à frota da Agrowalker Serviços e Transportes. "O clã Walker atua há três décadas na produção de soja e algodão em Luís Eduardo Magalhães e é fundador da AvantiAgro, empresa de sementes e insumos que tem como parceiras as multinacionais Syngenta, Bayer, Ihara e Monsanto", informa o relatório elaborado pelo jornalista Alceu Luís Castilho e pelos pesquisadores Bernardo Fialho e Bruno Stankevicius Bassi, que fazem parte da equipe do De Olho nos Ruralistas.
Laços firmes
O documento inclui na relação de fazendeiros que financiaram a tentativa de golpe o empresário Osvaldo Henke, diretor da Cooperativa de Transportadores Autônomos de Carga (Coopertac), fundada em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro. Tido como um dos mais atuantes líderes da extrema-direita no Oeste e aliadíssimo do ex-ministro da Cidadania João Roma, presidente do PL na Bahia, Osvaldo é integrante dos Henke, família pioneira na região com participação decisiva no processo que resultou, em 2000, na emancipação de Luís Eduardo Magalhães, que foi o maior distrito de Barreiras e era antes chamado de Mimoso do Oeste.
Magnata da terra e do ar
Megaempresário do Agro em Luíz Eduardo, Lauro Antonio Luza também ganhou destaque no relatório sobre os agrogolpistas. Gaúcho de nascimento e radicado na Bahia há cerca de quatro décadas, Luza é dono de terras e fundador da Gran7, empresa especializada em produção de sementes, nutrição e fisiologia vegetal com negócios em 20 estados e faturamento estimado em R$ 300 milhões na safra 2024/2025 . Além de enviar caminhões utilizados nos bloqueios rodoviários e no auxílio aos extremistas acampados em Brasília, o empresário e produtor rural ganhou notoriedade durante as eleições de 2022 por emprestar um jatinho de sua propriedade para políticos que integram a linha de frente do bolsonarismo. Entre os quais, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho "01" do ex-presidente.
Carga pesada
Mais cinco fazendeiros da Bahia são apontados pelo observatório como responsáveis pelo envio de caminhões aos golpistas. São Adriana Rosseto, Antonio Carlos Ribeiro e George Obeid Filho, de São Desidério; Wilsemar Elger, de Formosa do Rio Preto; e Albino Sadi Marodin, de Luís Eduardo. Em comum, todos eles são donos de fazendas no Oeste do estado e de empresas de transporte rodoviário ou aéreo.
Useiro e vezeiro
O relatório cita ainda dois megalatifundiários como membros do núcleo de financiadores da tentativa de golpe. Um deles é o fazendeiro José Fernandes Alípio da Silveira, o Zeca Alípio, vice-presidente da Associação Nacional de Defesa dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra (Andaterra). Alípio chegou a ser indiciado pela CPMI do 8 de Janeiro como um dos líderes do Movimento Brasil Verde e Amarelo, organização acusada de articular e financiar os atos golpistas. "Em 2007, Alípio foi denunciado por trabalho análogo à escravidão: seis trabalhadores foram resgatados em um imóvel arrendado, a Fazenda Bananal, em São Desidério, sem acesso à água potável e submetidos a jornadas exaustivas", acrescentou o relatório.
É soja!
Já Alan Juliani, um dos barões do agro em São Desidério, foi ex-presidente da influente Associação Nacional dos Produtores de Soja (Aprosoja), que deu origem ao Movimento Brasil Verde e Amarelo e ao Instituto Pensar Agro (IPA), entidade que dá suporte logístico e material à bancada ruralista no Congresso . Em 2023, segundo o observatório, a Aprosoja foi citada em um relatório da Abin sobre o financiamento de produtores rurais aos bloqueios de rodovias e ao acampamento montado por golpistas em Brasília. Juliani também foi incluído na lista de alvos da CPMI, como responsável por impulsionar a mobilização com viés golpista na Bahia.
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