
Política
Amabília Almeida relembra aposentadoria compulsória durante ditadura militar
"O que queriam é afastar lideranças e liquidá-las, para que não houvesse nenhuma forma de organização", explicou ex-deputada, ex-vereadora e educadora

Foto: Tácio Moreira/Metropress
A educadora Amabília Almeida, de 90 anos, relembrou, em entrevista à Rádio Metrópole, como foi aposentada compulsoriamente, com apenas 16 anos de serviço público, durante a ditadura militar.
Ex-vereadora e ex-deputada estadual, ela começou a defender a pauta da educação enquanto candidata à presidência Sociedade Unificadora dos Professores (SUP), que representava a categoria à época. Amabília afirma que a aposentadoria compulsória foi uma resposta ao movimento que comandava.
"O que queriam é afastar lideranças e liquidá-las, para que não houvesse nenhuma forma de organização", explicou.
Amabília Almeida era casada com o militante do PCdoB Luiz Contreiras e precisou se esconder junto com a família para que não fosse presa. Ela recorda que, no dia do golpe, estava com os colegas reunidos para receber o pagamento dos salários de professores do Estado, quando foi suspenso. Os docentes ainda não tinham conhecimento de que o golpe estava em andamento e foram cobrar para o então governador, Lomanto Júnior, no Palácio da Aclamação.
"Ele (Lomanto) disse: Amabília, diga a suas colegas que dentro de 48 horas mando fazer o pagamento. Eu deduzi que era o tempo que precisava para decidir de que lado iria ficar. Ficou com golpistas, enquanto Miguel Arraes era preso e tantos outros. Ele decidiu ficar com os golpistas, mas decidiu pagar as professoras", conta Amabília.
Só depois, quando ela e os colegas passaram pela Praça da Piedade, tomaram consciência do golpe. "Os carros-tanque do Exército já haviam invadido o Sindicato dos Bancários e havia muita gente correndo na rua dizendo que era a revolução", relembra.
Depois de aposentada, ela fundou a Escola Experimental, que completa 54 anos. "Em plena ditadura, nossa escola foi um farol que iluminou caminhos, onde perseguidos da ditadura e os democratas tinham onde encaminhar as crianças, porque sabiam que naquela escola se praticava a democracia, se tinha respeito pelo outro. Política é uma coisa, educação é outra. Nós nunca confundimos essas duas coisas, em respeito a pluralidade que existe na sociedade e porque também a educação estava para nós em primeiro lugar. Queríamos escola democrática, onde se aprendesse a respeitar o outro e a ser um cidadão verdadeiro", defendeu.
Ela ainda lembrou que, no mandato da Assembleia Legislativa, foi a única mulher entre 43 deputados.
"Foi uma grande luta e teve também a Comissão de Defesa do Consumidor. Queria dizer aos baianos que essa coisa que se chama hoje 'consumidor', antes não era assim, era 'freguês', desrespeitado. A partir daquela comissão permanente, desenvolvemos um trabalho importantíssimo, porque já estávamos na democracia e as coisas já podiam ser feitas. Essa democracia que conquistamos com tanta luta e sofrimento, nos possibilitou várias conquistas", afirmou.
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