
Política
Sociólogo critica papel das elites na crise e alerta: 'Está se colocando um golpe no Brasil'
Para Jessé Souza, movimento no país se assemelha ao que ocorreu na Bolívia: 'Plano de Bolsonaro é comprar as Forças Armadas'

Foto: Gilberto Menegoli/Abrasco
O sociólogo, professor universitário e pesquisador brasileiro Jessé Souza afirmou que o projeto autoritário do governo de Jair Bolsonaro tenta impor ao país um período ditatorial. Em entrevista a Mário Kertész na manhã de hoje (15), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele declarou que os militares passaram a apoiar Bolsonaro em troca de benefícios. "O que está se colocando no Brasil agora é um golpe de estado parecido com o que foi feito na Bolívia, miliciano, evangélico e militar. Temos as Forças Armadas que foram desmoralizadas. O Exército brasileiro sempre foi uma instituição importante no Brasil, uma instituição democrática, muito mais do que as outras. Sempre acolheu pessoas do povo, negros e etc, muito mais abertas que Aeronáutica e Marinha. Já tivemos militares nacionalistas", declarou o sociólogo.
"Mas temos agora um arremedo de Forças Armadas que entregaram o Brasil aos EUA. É um pessoal que está com saudade de mandar. Tem 3 mil pessoas que estão aproveitando dessa ocasião para desfrutar privilégios, privilégios que foram montados por Bolsonaro na reforma de previdência. O plano de Bolsonaro é comprar as Forças Armadas e ligar isso ao antigo projeto de Bolsonaro. Ele é o representante político das milícias", acrescentou.
Jessé Souza ainda avaliou o posicionamento político de empresários em meio à crise do coronavírus. "Hoje em dia, o Brasil chegou ao ponto em que as pessoas todas assumiram posições e sabem que não podem ficar em cima do muro. Está ficando claro para todo mundo o que está acontecendo. A gente está vendo o embate da direita ainda democrática e extrema-direita golpista em embates entre Bolsonaro contra Doria, governadores, STF e uma parte considerável da imprensa, como a Rede Globo", afirmou , direcionando críticas aos membros das classes mais altas da sociedade.
"O problema disso tudo tem a ver com a nossa elite. A gente sabe muito bem que, se a elite quiser mandar os deputados dela, que pagaram a eleição e tem relações familiares, para votar contra Bolsonaro, o impeachment teria saído há muito tempo. A gente tem uma elite que não é só atrasada, é uma elite criminosa. Caras que já eram tidos como empresários esclarecidos, como Abílio Diniz, ex-dono do grupo Pão de Açúcar, que disse em uma entrevista à Revista Veja há duas semanas que estava tudo bem e o governo estava ótimo, Guedes fazendo um ótimo papel", disse.
Desinformação
Jessé Souza ainda avaliou o papel da extrema-direita americana no projeto político de Bolsonaro. Influenciado pelo assessor político americano Steve Bannon, que foi estrategista da Casa Branca no governo de Donald Trump, o presidente brasileiro investiu nos discursos de ódio. "Bannon é um cara que está se aproveitando da miséria criada no mundo de hoje, no Brasil e nos EUA, que é incompreensível para o homem comum. Ela está sob a forma de títulos da vida pública e juros imbutidos em tudo oq ue a gente compra. As pessoas ficam mais pobres, perdem empregos, ficam miseráveis, ficam com raiva e ressentimento acumulado, mas não há uma explicação disso, porque a imprensa é toda dessa mesma elite e não vai explicar isso e agir contra si própria", apontou o pesquisador.
"Você tem pessoas desinformadas que podem ser facilmente manipuladas e jogadas umas as outras. Tem uma enorme quantidade de raiva e ressentimento de países desindustrializados, como Brasil e EUA, perderam empregos e têm raiva, mas que não se compreende. Bannon percebeu isso. Numa hora dessa, os principais sentimentos dos homens são a raiva e o ressentimento. Como não se sabe quais são as causas reais, você pode manipular e criar uma guerra entre os pobres", disse.
"A campanha de Bolsonaro foi contra a corrupção e contra a criminalidade. Quem é o criminoso? É o pequeno traficante de drogas, o aviãozinho, o usuário que tem uma piaba de maconha no bolso. A gente sabe que se for negro, ele vai preso. Um terço das cadeias é desse tipo de crime. Um cara que rouba o país inteiro e uma elite que rouba o país inteiro, reduzindo a expectativa de vida, de esperança, tira educação e saúde de milhões, é considerado um homem de negócios. Ou seja, essa manipulação da noção de delinquência, como uma moça jogada na prostituição, são os delinquentes criados artificialmente, inclusive pela igreja evangélica", acrescentou.
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