"Conseguimos cultivar o etarismo da covardia de encarar a morte e a velhice", diz geriatra

A geriatra Ana Claudia Quintana Arantes comentou o avanço do etarismo na sociedade brasileira e a negação da finitude da vida. Em entrevista ao Jornal da Bahia no Ar, nesta quinta-feira (10), a médica destacou que o envelhecimento vem sendo tratado como um incômodo, alimentado por uma cultura que evita lidar com a morte e alimenta o etarismo.

Ana Claudia apontou que o culto à juventude eterna alimenta uma visão distorcida do envelhecimento.“A gente vive uma situação tão dramática de etarismo no país. Porque o idoso tem um tempo do momento presente mais longo. E os mais jovens não suportam isso. A gente conseguiu cultivar o etarismo a partir da incapacidade, da covardia de encarar a morte e a velhice. A alternativa de envelhecimento é a morte, e nenhuma das duas parece boa, então a gente quer tirar as duas da frente para acreditar na juventude eterna", concluiu.

Ainda durante a entrevista, a geriatra comenta a lógica do acúmulo por trás da perspectiva de viver sempre com o pensamento no futuro. “Se você não olha para a vida como algo que termina e que precisa ser usufruída no agora, você entra numa lógica de acúmulo, de viver apenas para o futuro. E, quando a morte acontece, a resposta é apagar tudo rapidamente, tirar a pessoa da frente, seguir em frente, como se ela não fizesse mais parte da sua história”, afirmou Ana Claudia.

Segundo Ana Claudia, esse desprezo pelo envelhecimento tem consequências diretas na forma como os jovens veem os mais velhos. “Estamos educando pelo exemplo, e ensinando os mais novos a nos tratarem muito mal”, concluiu. A médica geriatra e escritora lança o seu primeiro livro infantil, "Onde Fica o Céu", voltado para a introdução da perspectiva da morte para crianças.

Confira a entrevista completa: