Quarta-feira, 04 de junho de 2025

Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp

Home

/

Artigos

/

Ninguém liga para o Dia dos Pais

Ninguém liga para o Dia dos Pais

Entendo que encher os pais de carinho seja estranho para muita gente, mas esta data também deve ter lugar na agenda

Ninguém liga para o Dia dos Pais

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 10 de agosto de 2023 às 08:50

No máximo uma meia ou uma cueca. Geralmente é o que se dá (ou se ganha) de presente no Dia dos Pais. Uma forma de bater o ponto e se livrar. Os pais mais chiques podem também ganhar uma gravata. Às vezes igualzinha àquela que já ganhou no ano passado. Mas, se não se der nada também, não causa muito alarde — verdadeira tragédia que seria o mesmo no Dia das Mães. O fato é que ninguém dá a mínima para o Dia dos Pais. Nem sequer as lojas e os esquemas publicitários se mobilizam além do protocolo. Vi uma propaganda esta semana, não lembro de qual produto ou loja, que, em vez de homenagear a classe, mostrar um filho grato pela dedicação e amor paternos, por exemplo, dá uma espécie de lição de moral ensinando como os genitores devem se comportar na criação. Não estou dizendo que grande parte dos pais não precise realmente de conselhos do tipo, mas, peraí, há bons pais que gostariam de se ver retratados como alvo de amor e gratidão, pelo menos no dia comercial que lhes é dedicado.

Por outro lado, é compreensível. Cresci numa rua onde várias crianças vizinhas, vários amiguinhos, tinham apenas mãe. E não era que seus pais estivessem mortos. Eram simplesmente pais que não nasceram para os filhos. Nunca assumiram afetiva nem financeiramente o resultado do romance, da transa, da gozada, da fecunda ejaculação precoce ou retardada. Outra coisa que me chamou atenção muito cedo está diretamente ligada à data de que estamos falando. No Dia dos Pais, o bar de Seu Santinho, que todos frequentávamos o ano inteiro, se enchia de crianças que eu nunca vira antes. Bem arrumadinhos, os meninos ficavam no entanto meio desajeitados no ambiente e mesmo ao lado dos caras. Ia-se ver, eram filhos deles. Parecia que foram encomendados só para aquele dia. Mesmo porquê, no dia seguinte, desapareciam para sempre até o ano que vem.

Portanto, entendo que encher os pais de carinho seja estranho para muita gente e até mesmo para o comércio. Porém, acredito também que, no meio de tanta desconstrução que vem sendo proposta, esta também deva ter lugar na agenda, no calendário. Ou talvez eu esteja com essa conversa mole toda apenas pra reivindicar que meus filhos se juntem e me deem um PlayStation 5 de presente.

Artigos Relacionados