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Dia do Folclore Nacional: um Cascudo não faz mal

Dia do Folclore Nacional: um Cascudo não faz mal

Se Villa-Lobos, indevidamente acusado de roubar a arte do povo, defendeu-se dizendo “o folclore sou eu”, Câmara Cascudo poderia, mais do que ninguém, se apropriar da frase

Dia do Folclore Nacional: um Cascudo não faz mal

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 24 de agosto de 2023 às 08:15

Nesta terça, 22 de agosto, comemoramos o Dia do Folclore. Parece coisa do passado, eu sei, mas a verdade é que estamos construindo o tempo todo o folclore do futuro. E quando o funk carioca for a nova ciranda-cirandinha, será preciso entender mais uma vez o contexto em que tudo isso se deu. E lá virão os folcloristas explorar nossa casa, quarto, coisas, almas, ipods, desvãos. Quase por acaso, estou ligado à cidade que é considerada a “Capital Nacional do Folclore”, a pequena e charmosa Olímpia, no interior de São Paulo. Ali nasceu minha ex-mulher, Alessandra, que hoje mora lá novamente com João, nosso filho. Não que Olímpia tenha por trás de si uma forte tradição folclórica, habitat de mulas-sem-cabeça ou que tais. Não mais que outros lugares. Mas, graças à obstinação do professor José Sant’anna, a cidade realiza concorridos festivais folclóricos há mais de 50 anos, atraindo pessoas e grupos de todo o Brasil. Além de sediar o importante Museu de História e Folclore Maria Olímpia.

A Bahia também é rica em folcloristas. Tenho admiração especial por Hildegardes Vianna, autora de “A Bahia já foi assim”, “Festas de Santos e Santos festejados” e “A cozinha bahiana, seu folclore e suas receitas”, entre outros, assim como por Edison Carneiro nas incursões que fez nesta área, como em “Dinâmica do Folklore” e “A Linguagem Popular da Bahia”, publicados respectivamente em 1950 e 51. Para muito além do Saci Pererê ou do Boitatá, o folclore, isto é, o repositório dos conhecimentos, práticas, crenças e dinâmicas de um povo é tão importante como se olhar no espelho pra começar ou terminar o dia. Citei Hildegardes e Edison, mas na verdade quero dar relevo especial àquele que eles mesmos certamente admiravam mais que todos nesse mister: Luís da Câmara Cascudo.

Se Villa-Lobos, indevidamente acusado de roubar a arte do povo, defendeu-se dizendo “o folclore sou eu”, Câmara Cascudo poderia, mais do que ninguém, se apropriar da frase. Ou melhor, o compositor, envergando o indefectível charuto que o pesquisador também apreciava, bem poderia ter dito: “Eu sou Câmara Cascudo”. Mesmo porque, como bem descobriu Cabral, um cascudo não faz mal. A verdade é que falta espaço pra falar de um terço da metade do trabalho monumental do potiguar. Foco na “História dos nossos gestos”, onde ele mostra que a gente fala muito antes de falar. Você sabia, por exemplo, que o V da vitória, popularizado por Churchill na Segunda Guerra Mundial, e depois incorporado pela geração paz e amor, era o gesto do gladiador ferido na arena romana, há 2 mil anos, pedindo perdão? Pois tem que ler Câmara Cascudo.

Certa vez ele disse que “o Brasil não tem problemas, só soluções adiadas”. Quem sabe uma solução esteja num gesto de nossa bisavó mestiça que precisamos retomar?

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