
Caetano & Gil, gêmeos há 60 anos
Celebrar 60 anos dessa amizade passa por revisitar as diversas fases, inclusive as dissonantes, da exposição pública dela mesma

Foto: Reprodução
Caetano Veloso e Gilberto Gil têm 81 anos cada. Ambos nascidos em 1942, num intervalo de pouco mais de um mês: Gil, em 26 de junho; Caetano, em 7 de agosto do ano citado. Mas decidi aproveitar este setembro, o mês dos gêmeos, dos meninos, dos mabaças para lembrar que há exatos 60 anos, 60 primaveras, em 1963, deu-se o encontro e o início da amizade que mudou os rumos da música e da cultura brasileiras. A história é razoavelmente conhecida e está registrada no livro “Verdade Tropical”, de Caetano. Ele já sabia e gostava de Gil, então conhecido como Beto, um preto que aparecia na televisão local, em programas musicais, exibindo habilidade e desenvoltura fora do comum. “Aquele preto que você gosta”, na expressão de dona Canô, sua mãe. E, um dia, indo no sentido Praça Castro Alves à Praça da Sé, em plena Rua Chile, quase em frente à Farmácia Chile (que ficava ali no hoje Palacete Tira-Chapéu), avistou vindo por acaso ao seu encontro, o tal Beto acompanhado por Roberto Sant’Ana (produtor cultural que “conhecia todo mundo em Salvador”). Já na lembrança de Roberto, o encontro se deu em frente à loja de artigos masculinos O Adamastor, que pertencia ao pai de Glauber Rocha, ali na esquina do Palace.
O importante é que, diferentemente do que Caetano temera (não ter graça, por suas limitações musicais e desinteresse por assuntos tipicamente masculinos como futebol, para um papo com Beto) a conversa fluiu que foi uma beleza, “cada um querendo falar mais do que o outro”. Conta Caetano: “Gil parecia tão feliz de me conhecer quanto eu a ele. Dir-se-ia que ele também já vinha me vendo em algum vídeo transcendental e esperava por esse encontro tanto quanto eu”. E mais: “Algumas vezes, ao longo dos anos, ouvi, comovido, Gil dizer que ao me encontrar se sentiu saindo de uma espécie de solidão: ao me ver e ouvir teve certeza de que achara verdadeira companhia”. E nós também, todos, partilhamos os frutos dessa amizade dos filhos de Claudina e Claudionor com dois Josés, encontrando-nos com elementos nossos que talvez ficassem pra sempre ocultos sem a irradiação que emana das ações de ambos, dos gêmeos.
Celebrar 60 anos dessa amizade passa por revisitar as diversas fases, inclusive as dissonantes, da exposição pública dela mesma. Como, por exemplo, quando Caetano criticou o disco Realce (1979), do amigo-irmão. Um signo é o sol, o outro a lua. Luz e mistério. Vida. Viva Caetano & Gil!
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