Crimes e dívidas em nome da fé

Foi uma semana ardente do ponto de vista teológico. Da Igreja Nacional do Reino de Deus, o pastor R.R. Soares - que por duas vezes recebeu passaportes diplomáticos de Jair Bolsonaro, a quem ele já abençoou - acaba de ter cancelado o seu horário por falta de pagamento do aluguel na TV Bandeirantes. Em um país dito laico, já é estranho que uma concessão pública seja alugada para uma corrente religiosa basicamente de um único ramo.

Pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus - que na pandemia vendia sementes de feijão a R$ 1 mil para curar a Covid, e na campanha eleitoral recebeu e orou também para Bolsonaro e sua igreja - está com uma dívida de R$ 21 milhões com o National Bank, e teve que vender um de seus aviões, um jatinho. Dá até um pouco de pena. Agora, ele não tem mais como pagar a sua programação de 22 horas em uma emissora de televisão. Há quem considere isso um castigo por vender semente de feijão a R$ 1 mil para curar Covid. Mas Valdemiro tem um outro probleminha na Justiça. Ele transferiu uma das suas aeronaves para a empresa “Eu transpiro adoração”, de uma de suas filhas, Raquel Santiago, cujo marido, ao se separar, levou uma graninha da família: R$ 800 milhões. Eu achei que era um erro, fui checar, mas os envolvidos citam este valor. E o templo de R$ 206 milhões está penhorado.

E agora, uma história inacreditável. Uma senhora foi presa em Santa Catarina. Ela tem relações próximas com o pastor Osório José. Eles, com outras 200 pessoas, deram um golpe em 50 mil vítimas no Brasil e no exterior. Convenceram fiéis que eles eram abençoados e receberiam octilhões de reais. Conveceram como? Usando uma teoria conspiratória chamada Nesara Gesara, que é um acrônimo do inglês, que quer dizer “ato para recuperação e segurança da economia nacional” e “ato para recuperação e segurança da economia global”. Tem até o Bill Clinton nesta história. Em cinco anos, essa senhora e dezenas de pastores criaram 40 empresas fantasmas, movimentaram R$ 156 milhões em mais de 800 contas bancárias, com a promessa de ganho mínimo de 350 bilhões de centilhões de euros. Essas 50 mil pessoas - é uma conclusão inescapável - merecem o reino dos céus por terem acreditado nisso.

E agora, uma história inacreditável. Uma senhora foi presa em Santa Catarina. Ela tem relações próximas com o pastor Osório José. Eles, com outras 200 pessoas, deram um golpe em 50 mil vítimas no Brasil e no exterior. Convenceram fiéis que eles eram abençoados e receberiam octilhões de reais. Conveceram como? Usando uma teoria conspiratória chamada Nesara Gesara, que é um acrônimo do inglês, que quer dizer “ato para recuperação e segurança da economia nacional” e “ato para recuperação e segurança da economia global”. Tem até o Bill Clinton nesta história. Em cinco anos, essa senhora e dezenas de pastores criaram 40 empresas fantasmas, movimentaram R$ 156 milhões em mais de 800 contas bancárias, com a promessa de ganho mínimo de 350 bilhões de centilhões de euros. Essas 50 mil pessoas - é uma conclusão inescapável - merecem o reino dos céus por terem acreditado nisso.

Também nesta semana, a Igreja Apostólica Renascer em Cristo, fundada nos anos 80 pelo casal apóstolo Estevam Hernandes e bispa Sônia, teve suas contas bancárias bloqueadas por dever R$ 7,8 milhões em aluguel.

Por fim, o pastor Péricles Cardoso de Melo, da Assembleia de Deus em João Pessoa, foi indiciado e teve prisão preventiva pedida pela polícia por aplicar golpes em fiéis. E o pastor Moisés Barbosa, que já coordenou o fórum contra a pedofilia e é professor na rede municipal em Belo Horizonte, se tonrou réu por estupro de vulnerável.

Isso tudo que relatei aconteceu nestas últimas semanas, então algo está se passando nesse setor. O deputado e pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) está tendo um papel importantíssimo na CPMI do 8 de janeiro e representa uma coisa importante, que é ter outra ideia de religião diante desses personagens todos citados. Vários deles eram próximos a Bolsonaro, isso talvez queira dizer que houve alguma cisão ou alguma percepção das igrejas, que não é essa unanimidade que as pessoas pensam e supõem.

*A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às sextas-feiras