Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Sábado, 27 de abril de 2024

Home

/

Artigos

/

Crise entre Brasil e Israel

Crise entre Brasil e Israel

Não fosse essa retenção dos brasileiros que estavam em Gaza, já teria havido uma convocação do embaixador de Israel no Brasil

Crise entre Brasil e Israel

Foto: Reprodução

Por: Redação no dia 16 de novembro de 2023 às 00:00

Nos últimos dias, foi contida uma crise diplomática porque não interessava ao governo do Brasil ampliá-la enquanto os 34 brasileiros retidos na fronteira de Gaza com o Egito não tivessem autorização para sair.

Não fosse essa retenção, de já quase um mês, já teria havido uma convocação do embaixador de Israel no Brasil para um protesto formal ou mesmo a retirada do embaixador do Brasil em Israel. Após a retirada dos brasileiros, suponho que algum gesto pode haver.

A gente teve sinais disso quando o chanceler Mauro Vieira disse: “eu não converso com o embaixador de Israel no Brasil, eu converso com o chefe dele, que é o ministro das Relações Exteriores”. Além disso, de Paris, o assessor especial da Presidência, principalmente para assuntos da área diplomática, Celso Amorim, pela primeira vez, usou a palavra “genocídio” referindo-se a Gaza.

A crise escalou em meio a uma investigação da Polícia Federal sobre suspeita de planejamento de um atentado terrorista no Brasil, supostamente patrocinado pelo Hezbollah. Essa informação chegou ao Brasil via Mossad e CIA. O governo de Israel e o Mossad tornam essa informação pública, o que é de se estranhar porque o serviço de inteligência israelense é lendário por sua discrição e eficiência.

A crise se complicou ainda mais quando o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, disse, sobre a suposta presença do Hezbollah no Brasil: “Se escolheram o Brasil, é porque têm quem os ajudem”. Em nota oficial, a Polícia Federal e o ministro da Justiça, Flávio Dino, refutaram a frase e Dino “chutou o balde” no limite. É uma frase estúpida e inaceitável na relação entre dois países. Se usassem o que se chama de “reciprocidade diplomática”, poderia-se dizer o seguinte: “Se estão aqui porque tiveram ajuda, quando o Hamas atacou, alguém ajudou?”.

A frase lançou mais sombra ainda sobre o porquê dos 34 brasileiros terem ficado tanto tempo sem autorização para sair. E levanta a suspeita de que isso tenha a ver com as ações diplomáticas do Brasil desde o início do governo Lula, não só na ONU, mas de uma maneira geral. Não por acaso, vozes da extrema direita e dos institutos ditos liberais nas emissoras de televisão e jornais brasileiros seguem atacando o Itamaraty e o governo brasileiro por sua ação nessa crise diante da guerra.

O Brics, que tem a Dilma Rousseff como presidente, aventou, em setembro, a entrada de novos parceiros, entre eles Argentina, Egito, Arábia Saudita e Irã. O Hezbollah depende e é da esfera de influência do Irã. É evidente que, crescendo o Brics, há uma formatação claríssima de um contraponto à liderança mundial tradicional de até então. Só esses cinco membros iniciais, fundadores, têm 42% da população mundial, 30% do território da terra, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional.

Além disso, Daniel Zonshine participou de uma reunião com parlamentares - e Bolsonaro como convidado - onde falou sobre ações do Hamas na guerra. Só 48 horas depois ele esclareceu que não o convidaram e que “ele apareceu lá porque quis”. Meio incompreensível. E, se por acaso, um ex-presidente tornado inelegível e sendo investigado comparece a um evento como esse, o embaixador teria o dever de se pronunciar, em vez de fazer de conta que não aconteceu.

Não conhecendo a pessoa do embaixador Daniel não é possível julgá-lo, mas, com o gesto público da persona, é possível julgar e isso foi uma coisa de moleque. A palavra é essa. Gesto e fraseado de moleque. Arrogância e empáfia incompatíveis com o cargo e com o momento.

Isso tudo diz muito, porque nos lembra que Jair Bolsonaro e Benjamin Netanyahu, juntos, arrastaram os seus países para a extrema direita, para o que vimos no Brasil no 8 de janeiro e para problemas evidentes que Israel tem com o governo de extrema direita. E ambos têm um traço em comum: são investigados por corrupção e, para tentar salvar os seus pescoços, atacaram as respectivas Supremas Cortes.

*A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às sextas-feiras