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O incrível sequestro de Marcelinho Carioca

O incrível sequestro de Marcelinho Carioca

Consenso mesmo no caso envolvendo Marcelinho Carioca só havia um: a história é muito mal contada e as pontas não se encontram

O incrível sequestro de Marcelinho Carioca

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 21 de dezembro de 2023 às 00:00

A semana começou com uma dessas notícias que se tornarão inesquecíveis não só na crônica policial brasileira, mas também no anedotário nacional, como verbete: o sequestro do ídolo do futebol Marcelinho Carioca, em São Paulo. O roteiro do episódio não havia sido suficientemente desvendado até a escrita final deste texto, mas o que se sabia no primeiro e segundo dias do ocorrido já era engenhoso e inverossímil o suficiente para se tornar objeto de espanto, riso e conjecturas as mais estranhas. 

Primeiro, ao longo da manhã de segunda-feira, a internet já estava quebrada com a informação espalhada de que o ex-jogador do Corinthians estava desaparecido desde a noite de sábado. O carro de Marcelinho, um Mercedes Benz, fora encontrado numa rua da periferia de Itaquaquecetuba, município da região metropolitana de São Paulo, fechado, sem marcas de danos, mas destravado. Especulava-se a possibilidade de sequestro e até de desfechos mais trágicos, à medida que começaram a circular informações de que valores já haviam sido pagos e mesmo assim nada de aparecimento do sequestrado. No início da tarde, veio um vídeo que parecia ter sido produzido no reino dos memes pelos roteiristas da terra plana. 

Na peça, hoje um viral incontestável, Marcelinho aparecia sem camisa, machucado, com um olho arrebentado e em um local anunciado por ele mesmo, de viva voz falando para uma câmera, como sendo um cativeiro. Até a cortininha era improvável, um monumento à estética kitsch: uma colcha de fio sintético meio veludo-meio chenille com padrão de stampa animal print infantil smallbear. Ursinhos coloridos abraçados e letras multicoloridas. O texto era improvável demais para ser verdade, e o cenário parecia longínquo demais da hipótese de ali haver sequestradores brutos e armados, armando a cena que se via. 

O jogador dizia, em tom confessional, que estava ali porque havia sido sequestrado e havia apanhado de um marido traído, com cuja mulher ele, Marcelinho, sem saber que ela era casada, havia saído após um samba em Itaquera. Ao lado, uma mulher de fala tímida e usado um pijaminha rosa de loja de departamento, dizia confirmar tudo o que Marcelinho havia dito: estavam em um cativeiro, sequestrados e agredidos, pelo marido dela. Em segundos após esse vídeo rodar o país e hitar em todas as páginas de colunistas de fofoca das redes e virar meme, já se sabia quem era a moça e circulavam prints com fotos dos dois de anos trás. Os dois se conhecem há anos e trabalharam juntos na Prefeitura de Itaquaquecetuba, onde ele foi secretário de Esportes e Cultura. 

A viatura de Tabata e a cortininha

A memosfera corria solta quando, primeiro, apareceu outro vídeo, agora da prima da moça do cativeiro, dizendo que a peça com Marcelinho não fazia sentido porque os dois eram amigos, as famílias também e ele não diria que não sabia que ela era casada etc etc. Em seguida apareceram as imagens e as notícias dando conta de que os dois foram resgatados do cativeiro graças a um telefonema anônimo. No cafofo dos ursinhos, não havia marido algum e havia tanta gente dentro que nem a polícia conseguia explicar quem fez o que no sequestro. Quatro pessoas foram presas e uma criança foi apreendida. Haveria mais gente na casa e mais pessoas envolvidas, que não estavam lá.

Os dois sequestrados deram entrevistas dizendo que foram obrigados pelos sequestradores a dizer o que disseram e o fizeram porque tinham um revólver apontado para suas cabeças. Consenso mesmo, até a escrita do texto, só havia um: a história é muito mal contada e as pontas não se encontram. É fato que o ex-marido da moça não estava na casa e se diz amigo de Marcelinho e da ex. O roteiro é um suco de bizarrice, só concorrendo com os posts do PSB com sons de viatura policial, anunciando a filiação de Datena ao partido e seu ingresso, em dobradinha com Tabata Amaral, à corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo. A enésima filiação partidária do apresentador. Na terça-feira, era Datena de um lado nas manchetes e, do outro, o olho roxo de Marcelinho com a cortina de ursinho do cativeiro ao fundo. Acaba logo, 2023.

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