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Os prefeitos no bunker

Nesta segunda-feira, 10 de junho, comemoramos os 500 anos do altíssimo poeta. Uma convenção, é claro, mas enriquecida de simbolismo, especialmente para nós da Bahia, terra onde começou o reinado da Língua Portuguesa nas Américas
Foto: Reprodução
Camões era retado. Melhor dizendo, miseravão! Camões era soldado, era fi-do-cão! Luís Vaz de Camões é muito mais mito que homem. A verdade é que pouco se sabe, de verdade, sobre ele. Mas com certeza era muito homem, pois fazer “Os Lusíadas” exige maturidade, vivência, sabedoria, entrega, força, halteres poéticos. Teria Camões tomado bomba para escrever versos como "Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana, / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram"? Nesta segunda-feira, 10 de junho, comemoramos os 500 anos do altíssimo poeta. Uma convenção, é claro, mas enriquecida de simbolismo, especialmente para nós da Bahia, terra onde começou o reinado da Língua Portuguesa nas Américas e que gerou, tanto tempo depois, no mesmo dia 10 de junho de 1931, um dos seus mais dedicados guardiães, o cantor João Gilberto.
Exaltando a força de Camões, o americano Ezra Pound destacou-lhe a dicção, para chamar a atenção dos esforçados tradutores de língua inglesa. Pois quando João Gilberto canta, com sua dicção perfeita, Camões está vivo e honrado em uma tradução intersemiótica de arrepiar os cabelos do c*. O destino épico do Reinado do Espírito Santo, onde o imperador é a criança, via Língua Portuguesa viva, esboça-se com lirismo e precisão. As armas e os barões assinalados agora são o amor, o sorriso e a flor. Mestiçagem e comunhão. Sons e sonetos. “Tanto de meu estado me acho incerto, / Que em vivo ardor tremendo estou de frio. / Às vezes, juntamente choro e rio. / O mundo todo abarco e nada aperto”. Esse é a nossa sina, trilhada no mar caudaloso que banha de Macau à bossa nova. “Somos chineses”, disse João a Caetano.
João amava Drummond que escreveu sobre a Máquina do Mundo que aparece a Vasco da Gama que é um dos heróis d’Os Lusíadas e parente sanguíneo de Camões. Achei que ouviria um papo desse nível, sobre tudo isso, no Gabinete Português de Leitura, ali na Piedade, no dia 10. Mas, e aqui cito outro poeta, “Triste Bahia”, atualmente a instituição cultural está à beira da falência e tem como única fonte de renda o estacionamento anexo ao seu edifício em estilo manuelino com toques mouriscos. Pois é, o estacionamento.
Antes sinônimo de movimento e vanguarda, a Bahia atual estacionou e vive roubando fios de cobre pra sobreviver. Hoje, 13 de junho, é aniversário de Fernando Pessoa, patrono do Gabinete Português. Mas, alguém tá ligando?
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