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Da Guerra de Facão à Guerra de espadas à Guerra Israel x Irã

Da Guerra de Facão à Guerra de espadas à Guerra Israel x Irã

Parece muito significativo que a gente venha proibindo toda ludicidade em torno da violência ao mesmo tempo que as violências brutais se espalham

Da Guerra de Facão à Guerra de espadas à Guerra Israel x Irã

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 19 de junho de 2025 às 06:57

O compositor Wilson Aragão, que nos deixou há menos de um mês, não plantou apenas um sítio no sertão de Piritiba. Não, ele semeou também versos de grande sabedoria na música "Guerra de Facão". Versos que me vieram à cabeça assim que eu soube do início da guerra entre Israel e Irã. Não bastassem o infindável conflito em Gaza envolvendo o mesmo Israel, a peleja entre Rússia e Ucrânia e tudo o mais, incluindo as guerras de facções destruindo as vidas das periferias do Brasil inteiro, entramos em mais um capítulo desses que fazem as manchetes especularem (não sabemos se sábia ou bobamente) pelo desabrochar da Terceira Guerra Mundial. Armas de destruição em massa estão virando bombinhas de São João. E, inclusive, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou em vídeo publicado nas redes sociais que o objetivo dos recentes ataques ao Irã é "frustrar a ameaça nuclear e de mísseis balísticos do regime islâmico contra nós".

Voltando a Wilson Aragão: "Num sei se tô errado, mas arrisco meu parpite / de acabá com as bomba atromba, incoivará os rifle / Tocá fogo em toda tenda qui é de fábricá canhão / Morre muitcho menas gente, se a guerra fô de facão". Alguém contesta essa verdade absoluta? Aliás, sempre que ouço falar em guerra e em mortes de civis, penso que os conflitos deveriam ser protagonizados exclusivamente pelos chefes de estado, num ringue, e quem sair vivo ganha. Junto às notícias do Oriente Médio, recebo no direct do Instagram, a mensagem de um desconhecido pedindo meu apoio à causa das guerras de espada — "uma tradição junina injustamente proibida", argumenta. Confesso que não sei detalhes, mas me parece muito significativo que a gente venha proibindo toda ludicidade em torno da violência ao mesmo tempo que as violências mais absurdas e brutais se espalham como rastilho de pólvora.

No Carnaval, estão proibidas as pistolas d'água. No São João, as guerras de espada. Estamos cada vez mais longe da guerra de facão do poeta Aragão e cada vez mais perto de queimarmos todos juntos no caldeirão do cramulhão.

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