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Black Fraude: A Conspiração e a Conspiração Consumista

Black Fraude: A Conspiração e a Conspiração Consumista

A única coisa que me encuca é pensar o porquê que eu deveria confiar na boa intenção da Netflix, uma empresa que em tudo se encaixa no perfil consumista

Black Fraude: A Conspiração e a Conspiração Consumista

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 28 de novembro de 2024 às 00:41

Semana de Black Friday e a Netflix, que assino por R$ 44,90 mensais, me indica um documentário que eu tenho tudo para gostar: "A Conspiração Consumista". A sinopse diz: "Este documentário subversivo revela os truques que as marcas usam para os clientes continuarem comprando e o impacto que isso tem em nossas vidas". Bacana. Sou um crítico do consumismo e, em minha vida pessoal, sustento bem pouco os caprichos do sistema. Black Friday, por exemplo, sempre me é sinônimo mesmo de economia, já que eu não compro nada só por estar em promoção. Economizo 100%. Nunca joguei numa Bet. Não sei nem dizer a maioria das marcas de roupa, de carro, de acessórios ou cosméticos. Já no trailer do doc, um ex-presidente da Adidas afirma: "Eles conhecem você". E completa: "Tipo, nós conhecemos você". A ideia do filme é revelar como os algoritmos e outras ferramentas são manipuladas pelas grandes empresas para forçar o nosso consumo desenfreado. 

Tudo certo. A única coisa que me encuca é pensar porquê eu deveria confiar na boa intenção da Netflix, uma empresa que em tudo se encaixa no perfil por ela mesma descrito. Eis o que me pergunto: que tipo de estudos de mercado foi feito pelo streaming para saber que denúncias assim são do interesse do consumidor e, por isso, investir na produção lucrativa? Quais filtros e truques eles usaram ("nós conhecemos você") para encaminhar o documentário a mim justamente nesse período? Até que ponto "A Conspiração Consumista" em si não passa de mais um produto de mercado a insuflar o consumismo do assinante de plataformas como eu? 

Aliás, vale lembrar que a Netflix aumentou as assinaturas, intensificou o uso de IA no lugar de pessoas, sonega diversos direitos conquistados a atores, roteiristas etc e, por isso mesmo, foi pivô de uma grande greve da categoria no ano passado.

Sim, a denúncia sobre a indústria é verdadeira. Mas até que ponto quem a faz não sabe ("nós conhecemos você") que ela é também inofensiva, uma vez que o público/cliente quer apenas se sentir mais consciente e esperto e que isso, no entanto, não altera em nada sua sanha consumista? Ao contrário, até aumenta o desejo por consumir outros filmes e documentários chiquemente "subersivos" como este, pelos quais paga-se caro. É, amigos, o Capitalismo vende até a própria morte.