Não aceitamos dinheiro

Tá cada vez mais difícil gastar dinheiro. Piada, né? Em alguma medida sim, pois o que eu quero dizer é que dinheiro físico, dinheiro de papel, notas, cédulas estão cada vez mais obsoletas e até malditas. Dia desses fui comprar um copo de mingau nas Sete Portas. Dei uma nota de 10 reais para cobrar cinco. E o cara disse: "Rapaz, esse troco aí tá difícil. Não tem como fazer um pix não?". Outro dia deixei o troco pro cara do picolé, pois ele também não tinha moedas. Estou citando minúsculos comércios, mas já ouvi depoimentos de amigos que, mesmo em shoppings, já tiveram dificuldades para pagar em espécie. Outro caso: no Vale do Capão tem uma cachoeira chamada de Riachinho. Uma beleza! O acesso é mediado por uma guarita onde se paga 12 reais por pessoa. O amigo que nos levou já foi logo dizendo: "Tem que ter dinheiro vivo, pois lá não aceita cartão nem nada". Sempre tenho dinheiro vivo, ainda mais que, como já disse, não tenho conseguido gastar. Chegamos ao local e deparamos com o aviso: "Só aceitamos pagamentos via pix".

No meio do mato, das rochas, dos rios, das cachoeiras. E o pagamento é exclusivamente por pix. Não é uma opção. Só faltaram escrever o que estava dito de outra forma: "NÃO ACEITAMOS DINHEIRO". E assim será em breve por toda parte, se até no Capão já chegou a revolução financeira digital. Pix in Excelsis. O interessante é que o Brasil está a cada dia um país mais evangélico, e eu, que fui criado em família de crente, sempre ouvi deles a profecia de que o governo mundial do anti-Cristo iria tirar as moedas de circulação. Sinal do fim dos tempos. Pois bem, o cenário está favorável para todas as especulações. Sem pretender me meter em crença e fé, nem muito menos interpretar o Apocalipse, o que fico pensando é quando a internet cair por meia hora e ninguém tiver um puto no bolso.