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Mortes sob escombros

Senadores da oposição e do governo acharam por bem convidar Marina Silva não para ouvi-la, mas para acusá-la de ser a responsável pela estagnação do progresso brasileiro
Foto: Reprodução
Aqui jaz um texto sobre o suposto tapa de Brigitte na cara de Emmanuel Macron, na porta de um avião, no Vietnã. Em jornalismo, um dos critérios para que uma notícia tenha mais destaque que outra é a proximidade do tema com o leitor/ouvinte/telespectador. A cena protagonizada pelo presidente da França e pela primeira-dama merece textos sob múltiplos enquadramentos, em qualquer lugar do mundo. Mas, no Brasil, após a sessão grotesca promovida no Senado contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o casal francês perdeu o timing até como meme, na agenda da semana noticiosa.
Senadores da oposição e do governo acharam por bem convidar Marina Silva não para ouvi-la, mas para acusá-la de ser a responsável pela estagnação do progresso e do desenvolvimento brasileiro e para afirmar com empáfia que não a respeitam. O senador Omar Aziz, do Amazonas, aliado do presidente Lula, disse com toda a ênfase do mundo que o país está parado por conta do discursinho (sic) ideológico de Marina. Depois de já ter se elogiado dias antes, por ficar horas ouvindo Marina, sendo envenenado contra a ministra pela esposa e mesmo assim não a ter enforcado, o senador Plínio Valério, também do Amazonas, foi assertivo: ‘eu não a respeito como ministra'.
Desgraça e aplausos
Muito se falará disso, coleguinhas de parlamento devem vir a público colocar panos quentes, minimizar as aspas dos ofensores, notas de repúdio e moção de apoio circularão, mas palavras ditas não têm retorno. Foi grotesco, o buraco da polarização se alimentará disso, a crise no governo ganha uns litros de luminol e Marina sai do episódio maior que seus detratores. Mas são poucas as dúvidas de que boa parte dos poderosos com assento no governo pensam dela coisas bem parecidas com as reveladas no Senado na terça-feira. Ou seja, que a sua gestão atrapalha o rumo que o governo quer dar ao país quando se fala em meio ambiente. Ninguém ali vai mudar de ideia.
E como tudo se deu no Senado e em se falando de respeito, não custa voltar o filme rodado na Casa dias atrás. Quando a influencer Virgínia Fonseca foi chamada à CPI das Bets, para responder sobre lavagem de dinheiro com apostas e sobre o ‘cachê da desgraça’, recebeu tratamento de estrela, com pedido de autógrafo, selfies, convites para segui-la nas redes e elogio às publis e aos produtos da marca da moça. E por falar em Virgínia, enquanto o episódio Marina era o assunto mais noticiado e comentado, ela anunciou o fim do casamento. Terminou o dia sendo trend topic, com milhões de referências ao seu nome e milhares de novos seguidores. E voltemos à proximidade como critério de valor na economia da atenção noticiosa. Entre Virgínia e Marina, os likes, elogios e aplausos vão para quem?
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