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João e Edson Gomes: duas vozes e uma profecia nacional

João e Edson Gomes: duas vozes e uma profecia nacional

Essa semana, João Gomes anunciou que pretende cantar com Edson Gomes. E a mera notícia já melhorou o meu Brasil

João e Edson Gomes: duas vozes e uma profecia nacional

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 29 de maio de 2025 às 07:12

Para mim, sempre foi a música. Sim, o Brasil é o país de um futuro que nunca chega. Porém, como eu já disse, para mim a música brasileira sempre esteve lá. Nasci naquele período de resto de ditadura militar e ainda lembro da hiper inflação, quando a gente botava a mão no bolso e o preço do leite já tinha aumentado. Nessa mesma época nasceu também, por exemplo, o bloco afro Olodum do Pelourinho, então uma comunidade desgraçada, discriminada, sofrida. Mas do que eu me lembro mesmo é de ligar o rádio e a televisão e viver em um país maravilhoso onde se ouvia de Djavan a Alcione, lambadas provenientes da região amazônica via Pinduca, Belchior colocando numa dessas lambadas citações de Marcel Duchamp, Luiz Gonzaga, Luiz Caldas e Raul Seixas, os melhores sambas de São João da Bahia, Gal Costa, Chico Buarque e a jovem Marisa Monte, Titãs e Banda Reflexus etc etc etc. Mais que esperança, portanto, a música é o Brasil que sempre foi aquele Brasil que juramos que podemos ser e seremos.

Essa semana, João Gomes anunciou que pretende cantar com Edson Gomes. E a mera notícia já melhorou o meu Brasil. Curiosamente, os dois têm o mesmo sobrenome, reforçando a dinastia familiar. E o jovem cantor pernambucano, cuja voz traz elementos terrosos e telúricos impressionantes, algo de trovão, algo de mugido, cristais de rocha de todo um povo, vem revelando forte consciência de seu lugar no ecosistema da MPB. Esse encontro, que com fé em Jah se realizará, parece o cumprimento de uma profecia. Na faixa-título do álbum "Meu Coco", Caetano repete aquilo que ouviu de João Gilberto: "Somos chineses". Mas, talvez com mais propriedade ainda alguém pudesse dizer que somos etíopes. Pra quem não sabe, o reggae é o ramo musical do rastafarianismo, movimento surgido na Jamaica baseado na tradição judaico-cristã da Etiópia — a única nação africana jamais colonizada.

E o fato é que esse mesmo reggae ganhou acolhida especial aqui na Bahia, gerando o samba-reggae do já citado Olodum e tendo como voz principal o rei Edson Gomes. Esse encontro dos dois Gomes será o próximo passo na formação do quebra-cabeça nacional. Recôncavo e Sertão. De Serrita a Cachoeira. Está escrito nas estrelas. 

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