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O Nepal, o apocalipse e Baby

O Nepal, o apocalipse e Baby

O bandeirão dos EUA na Paulista carregado pelos patriotas e Dona Lucinha contando para o país que os ministros do STF e Lula são clones de olhos azuis, levam a uma certeza: Baby do Brasil tem razão

O Nepal, o apocalipse e Baby

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 11 de setembro de 2025 às 06:32

O Nepal é muito longe, e a atenção dos brasileiros, dos dois lados da polarização, está no Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos atos golpistas de janeiro de 2023, ao fim do qual Bolsonaro pode ir para a Papuda. Mas as imagens de fumaça preta de 26 banheiros químicos indo pelos ares, explodidos por um homem, já preso, na Praça dos Três Poderes, se misturam, na polifonia de imagens das redes, à convulsão social traduzida em labaredas, no Nepal, a imagens em Paris, no modo tradicional como os franceses protestam nas ruas, queimando tudo. 

Às vezes, os acontecimentos prometem muito e, história decorrida uns anos depois, vê-se que eram só um surto social de fôlego curto. Vasculhem na memória a Primavera Árabe. Levou os manifestantes aonde, mesmo? Tudo se acomodou, no pior sentido. Mas arrisquemos apostar que os protestos no Nepal merecerão algumas reflexões de gente séria que se esforça para traduzir, em artigos de jornais e em livros, as tensões do mundo e os estragos que elas produzem, mesmo que durem pouco. 

Provavelmente veremos e ouviremos muitas teses sobre os milhares de jovens nepaleses incendiando o país após o governo, acusado de corrupção, bloquear as redes sociais. A corrupção, a geração Z até tolera, muitas vezes por sequer tomar conhecimento dela, por decisão voluntária, ou pelo fenômeno da moda: "avoidance news", a decisão de evitar notícias. Mas bloquear redes sociais? Ah, isso não tem chance de ser tolerável pelos jovens. Nepaleses foram às ruas, queimaram palácios e mansões, com gente dentro. As imagens das janelas incandescentes, como se houvesse volumosas cortinas de fogo, produziram cenas que levam as redes a reações orgásticas. 

Ivete e o Labubu

Criou-se a prerrogativa. Bloqueiam redes? Toca-se fogo num país. Sobre nós, paira ameaça pior: a loiríssima porta-voz da Casa Branca anunciou a disposição de Donald Trump de bombardear militarmente o Brasil, em reação ao STF. A mesma Casa Branca postou em seu perfil um latino com nanismo, preso e deportado, alegando ser ele um criminoso, e o chamou de Labubu diabólico. 

Diante de cenas assim, não demora e daremos razão a Baby do Brasil. No meio do carnaval baiano de 2024, ela advertiu Ivete Sangalo de que o apocalipse e arrebatamento chegaram. Deve estar certa. O bandeirão dos Estados Unidos na Avenida Paulista carregada pelos patriotas para comemorar a independência do Brasil e Dona Lucinha, contando para o país que todos os ministros do Supremo e Lula são clones de olhos azuis, levam a uma certeza: Baby tem razão.