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João Cabral: aniversário de morte e de “Morte e Vida Severina”

João Cabral: aniversário de morte e de “Morte e Vida Severina”

Em tempos de comoção fácil vendida nas prateleiras das redes sociais, é precinecessário tomar João Cabral como antídoto. Os discursos vazios de políticos e influenciadores não nos adoeceriam coletivamente, como vêm fazendo, se todo mundo tomasse uma dose do poeta

João Cabral: aniversário de morte e de “Morte e Vida Severina”

Foto: Reprodução/Jornal Metropole

Por: James Martins no dia 09 de outubro de 2025 às 06:55

"O objeto toca você por todos os sentidos. O abstrato, não. Por isso, prefiro sempre uma maçã a uma tristeza", disse certa vez o poeta João Cabral de Melo Neto. E estou aqui mais uma vez aproveitando essa coisa de data para falar de uma outra paixão de minha vida: ele, João Cabral, que morreu no dia 9 de outubro de 1999. Ou seja, um hoje de 26 anos atrás. Lembro muito bem daquele dia, pois Cabral era uma amizade recém-adquirida. Sim, eu o lia tanto e convivia tanto com seus versos que o considerava um amigo. E estava pensando justamente nisso quando soou a alarmante musiquinha do plantão da Globo, com a notícia: "Morre o poeta pernambucano...". Mas, o fato, é que, por mais clichê e sentimentalóide (tudo que JCMN evitava) que pareça, um poeta daquele tamanho não morre. Anti-confessional, anti-sentimentalista, João poliu sua pedra em direção oposta à tradição grandiloquente e demagógica que marca a via principal das letras brasileiras. Quiçá mundiais. "Sempre evitei falar de mim, / falar-me. Quis falar de coisas. / Mas na seleção dessas coisas / não haverá um falar de mim?".

E por falar em anti. Em tempos de comoção fácil vendida nas prateleiras das redes sociais, é precinecessário tomar João Cabral como antídoto. Os discursos vazios de políticos e influenciadores não nos adoeceriam coletivamente, como vêm fazendo, se todo mundo tomasse uma dose do poeta de "O Cão Sem Plumas" diariamente em jejum. Sobre esta obra, disse Manuel Bandeira ao autor: "aqui você já se sentiu habilitado a fazer a técnica servir ao seu sentimento e não, como antes, pôr o seu sentimento no aperfeiçoar a técnica". Um divisor de águas, portanto. "Duas águas", se chama outro grande poema de Cabral. E, por falar em obras, neste ano se completam também 70 anos da publicação de "Morte e Vida Severina", a sua mais famosa.

Falando nisso, uns versos: “Podeis aprender que o homem / é sempre a melhor medida./ Mais: que a medida do homem / não é a morte mas a vida”. Viva João Cabral. 

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