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Medicina “jus primae noctis”

Palestinos tiveram que fugir de suas casas durante os ataques israelenses. Aqui, condomínios do Minha Casa, Minha Vida foram usurpados pela criminalidade e muitos moradores também estão sem ter onde morar
Foto: Reprodução
"A minha rua é assim: um lado pertence à bandidagem x, o outro lado pertence à bandidagem y. E aí, quem atravessar morre". Ouvi esse desabafo de um amigo bem na hora em que me chegava, pela internet, uma análise sobre a suposta paz entre Israel e Palestina arranjada por Donald Trump. Guerras. Como o YouTube sempre sugere um pouco mais, vi que alguns analistas estão citando profecias bíblicas para garantir que a onda de violência no Oriente Médio não cessará por muito tempo. Essa mesma bíblia que vi cinco pessoas diferentes lendo dentro de um ônibus na Suburbana, demonstrando uma força incrível no país onde já quase não se lê. Bíblia que até a bandidagem lê e às vezes cita entre uma crueldade, uma execução e outra. O mundo não é brincadeira. E Salvador não fica atrás. "Bem que eu gostaria de um cessar-fogo de um mês lá na rua também, pra poder buscar minha filha no colégio em paz", disse o meu amigo, em tom de brincadeira e desconsolo.
Palestinos tiveram que fugir de suas casas durante os ataques israelenses. Aqui, condomínios do Minha Casa, Minha Vida foram usurpados pela criminalidade e muitos moradores também estão sem ter onde morar. Ou então pagando taxas aos bandidos armados. Um professor de escola pública, que é apenas meu conhecido, teve que aposentar o tênis Adidas porque dá aula em uma região cuja numerologia maléfica é conflitante com a que a marca supostamente representa. A diarista que não deixa minha casa se transformar em um chiqueiro ficou sem ônibus essa semana porque "os meninos" tocaram fogo em um buzu no bairro dela e os motoristas e cobradores também são seres humanos e sentem medo. Donald Trump caprichou no elogio em boca própria e encheu a própria boca com a palavra PAZ. Peace.
Aqui, por enquanto, nem em ação de marketing estamos podendo utilizar a palavrinha. O noticiário não economiza em espremer o terror. E o pior é que não precisam inventar nada. Não é fake news. O Oriente Médio é aqui? Ou aqui está pior?
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