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Zuckerberg e sua tarde no inferno

Zuckerberg e sua tarde no inferno

Agora, todo mundo sabe que, se um botão de off acender uma luz no Vale do Silício, os boletos aqui poderão ficar órfãos e não haverá balcão de queixa ou de ressarcimento de prejuízos

Zuckerberg e sua tarde no inferno

Foto: Reprodução Jornal da Metropole

Por: Malu Fontes no dia 07 de outubro de 2021 às 11:44

Poucas semanas após um bilionário da tecnologia do norte rico do mundo ter se divertido, ao preço de bilhões de dólares, ostentando uma viagem de minutinhos ao espaço a bordo do seu foguete particular, outro desceu ao inferno, aqui mesmo na terra, para uma tarde que vai demorar a acabar. Em meia dúzia de horas, Marck Zuckerberg, 37 anos, dono do Facebook, do Instagram, do WhatsApp e do Messenger, com uma fortuna de cerca de 123 bilhões de dólares, provocou um redemoinho no mundo e foi tragado junto. Suas redes, usadas por 3,5 bilhões de pessoas, sofreram um apagão sem precedentes nessa segunda-feira, por uma falha operacional interna, segundo um comunicado oficial do Facebook. Os prejuízos ainda são tidos como incalculáveis para quem foi afetado pela pane. Para quem perdeu dinheiro por deixar de vender um produto ou por interromper serviços com clientes, no WhatsApp e no Instagram, por exemplo, as perdas são irrecuperáveis. 

Um restaurante que não pôde receber pedidos pelo aplicativo na tarde de segunda e deixou de vender 10 ou 100 pratos, não voltou a vendê-los seis horas após, quando os aplicativos voltaram a funcionar. O mesmo vale para os entregadores que deixaram de fazer entregas pela mesma razão. De pequenas quitandas de bairros periféricos nas cidades brasileiras a mega stores de departamento, todo mundo perdeu. O universo da blogueiragem, dos influencers e de meio mundo que literalmente se alimenta de publiposts foi ao chão e provavelmente não voltará a dormir sossegado. 

Agora, todo mundo sabe que, se um botão de off acender uma luz no Vale do Silício, os boletos aqui poderão ficar órfãos e não haverá balcão de queixa ou de ressarcimento de prejuízos. O empreendedorismo digital é muito bom, muito prático, um milagre. Pena que o dono da banca fique do outro lado do mundo e esteja cada vez mais perto da incapacidade de garantir que amanhã a coisa toda vá estar no mesmo lugar e funcionando. Os americanos não costumam ser bobos quando se trata de dinheiro e, na mesma semana em que o Facebook apagou durante uma tarde, republicanos e democratas estavam do mesmo lado no Senado exigindo o fim de tanta concentração de poder na mão de um Zuckerberg só. E nem era por conta do apagão, mas pela sucessão de coisas estranhas que o Facebook tem feito com o poder que ser dono de tantas redes poderosas lhe dá. As denúncias, acusações, queixas, evidências e os processos se avolumam.

BAIRRO DA PAZ - O apagão da segunda-feira foi um terremoto no castelo do império da tecnologia. Muita gente perdeu dinheiro e o incidente certamente provocará desdobramentos, de várias ordens e em várias escalas. Mas, prejuízo mesmo, em maiúsculas, embora ele tenha estofo para bancar a pancada, quem teve foi o próprio Zuckerberg. Na segunda-feira, foi dormir menos rico em quase 7 bilhões de dólares, somente com a queda das suas ações em Wall Street. A estimativa é de prejuízos ainda maiores em outras esferas. Especula-se que o valor de mercado do Facebook tenha caído cerca 47 bilhões de dólares. A soma do apagão à série de denúncias feitas por uma ex-executiva do Facebook à imprensa e ao Senado tem provocado chamas difíceis de conter.

Quando se fala em Facebook,  seu dono, seus lucros, e, mais recentemente, seus problemas, tudo é superlativo. Estima-se que o Facebook tenha um faturamento diário de 1,7 bilhão de reais, e que, com um apagão como o de segunda-feira, a empresa chegue a perder receita da ordem de 72,3 milhões de reais por hora, ou 1,2 milhão de reais por minuto. Em publicidade digital só o Google é páreo para o Facebook. 

Ninguém duvida das vantagens e das possibilidades inumeráveis da tecnologia. No entanto, supor que a equação vigente no mundo hoje, armada pelas big techs, vai se manter sem provocar danos econômicos e sociais, é cegueira. Tanto poder concentrado em pouquíssimos CEOs que monopolizam o setor em todo o mundo em uma mesma pessoa, com os mesmos métodos e estratégias, controlando quatro mastodontes, como é o caso de Zuckerberg, não pode ir muito longe sem que a fatura chegue. Não só para os finos bilionários, mas para todo mundo. Algo mais que a gestão da imprevisibilidade de incidentes deve ser criado para impedir que um erro no Facebook na Califórnia deixe sem renda um entregador de comida do Bairro da Paz.