Emocionante e imperdível, espetáculo "Maldita Seja" faz nova temporada em Salvador

O que pode acontecer quando uma mulher humilde dedica a vida a servir uma família e chega a acompanhar o velório do patrão? É a essa pergunta que ‘Maldita Seja’ vai te responder. O espetáculo dirigido por Hyago Matos, a partir de texto inédito de Paulo Henrique Alcântara, faz nova temporada, no palco do Teatro Molière, na Aliança Francesa, em Salvador. Se você gosta de teatro, acredite, acompanhar a história de Cema e Nevinha é um presente emocionante. 

Para falar pessoalmente, já estive na plateia do espetáculo, pelo menos uma vez, em cada  uma das temporadas anteriores. Em linhas gerais, “Maldita Seja” conta a história das duas empregadas domésticas, que trabalham juntas na casa de uma família rica. Durante o velório do patrão, figura influente em uma cidade do interior, elas atravessam a madrugada na cozinha do casarão onde moram, revirando o passado da família para a qual trabalham. 

Não vou escrever aqui sobre os segredos que Cema revela, pela insistência de Nevinha. Isso, você vai descobrir da platéia. Para além da sensação de fuxico trazida pelas circunstâncias, ‘Maldita Seja’ te dá outros presentes. A peça - escrita por Paulo Henrique para a formatura em direção teatral de Hyago Matos - te leva de volta no tempo. Para um interior que talvez só exista na imaginação de quem se acostumou a morar na cidade grande. 

O cheiro de café recém passado e a imaginação trazida pelas radionovelas são apenas duas coisas pra citar, mas estão longe de ser o melhor do espetáculo. Assim como as personagens, o espetáculo nos coloca de frente com duas atrizes separadas por gerações - e que encontro potente. Vivianne Laert e Veridiana Andrade defendem as personagens complexas de uma maneira emocionante. Cheio de sutilezas, as atrizes conseguem, em uma hora de espetáculo, nos fazer amar Cema e Nevinha como se fosse na nossa cozinha que elas conversassem.

Para além da performance tocante das atrizes, um cenário com cara de casa de vó, e uma direção sensível de Hyago envelopam um texto primoroso de Paulo Henrique Alcântara. Diante de tantos elogios você pode estar se perguntando a razão pela qual o espetáculo se chama ‘Maldita Seja’. Para não te dar spoiler, e te fazer correr para o teatro, não vou te contar. Posso dizer, por outro lado, sem medo de errar, que a obra poderia facilmente mudar de nome e se chamar “Bendito Seja”. Bendito Seja o teatro baiano. Imperdível!