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Guru do Cinema Novo da Bahia, Walter da Silveira completaria 100 anos

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Guru do Cinema Novo da Bahia, Walter da Silveira completaria 100 anos

Viveu em Salvador, nos meados do século 20, um dos mais apaixonados intelectuais conhecedores de cinema no Brasil. Walter da Silveira, que completaria 100 anos na última quarta-feira (22), foi mais que um crítico de cinema: foi um ensaísta, entusiasta, professor e pesquisador. [Leia mais...]

Guru do Cinema Novo da Bahia, Walter da Silveira completaria 100 anos

Foto: Arquivo/Agência A TARDE

Por: Nardele Gomes no dia 25 de julho de 2015 às 08:30

Viveu em Salvador, nos meados do século 20, um dos mais apaixonados intelectuais conhecedores de cinema no Brasil. Walter da Silveira, que completaria 100 anos na última quarta-feira (22), foi mais que um crítico de cinema: foi um ensaísta, entusiasta, professor e pesquisador. Walter formou legiões de apaixonados por aquilo que considerava o mais poderoso meio de expressão artística: o cinema. Foi influenciador direto de Glauber Rocha e, mais do que isso, um guru que contribuiu de forma fundamental para que no Brasil e na Bahia se fizesse cinema de boa qualidade.

Para o produtor cultural Roberto Sant’Ana, não teria havido Cinema Novo na Bahia se não fosse Walter da Silveira. “Ele começou a participar do início do Cinema Novo na Bahia, o filme ‘A Grande Feira’, produzido por Aristidiano Braga, Roberto Pires, Glauber e Paulo Gil Soares. Esses foram nossos primeiros cineastas, e doutor Walter era o guru dessa turma”, conta. Walter da Silveira nasceu em Salvador em 22 de julho de 1915, era advogado e participou ativamente da vida política da cidade.

Incentivo ao Clube de Cinema Baiano

“Eu acho que o cinema foi para Walter da Silveira mais importante que o feijão que ele comia ou as causas que ele abraçava como advogado. Na verdade, existiam dois Walteres em um só: o Walter advogado e o Walter da Silveira, um amante do cinema, criador e tocador do Clube de Cinema da Bahia”, lembra o crítico cultural Roberto Sant’Ana.

Walter foi um dos principais incentivadores do Clube de Cinema da Bahia, fundado em 1950. Durante anos, o intelectual conseguiu programar, todos os sábados, sessões às 10h no Cine Guarani — hoje, Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, onde eram exibidos filmes eruditos e de grande validade artística, que foram conseguidos através do seu prestígio nas mais longínquas e diversas cinematecas do Brasil e de diversos países.

Empenho para incentivar o cinema

O dono do Cine Guarani na época era o jornalista e pesquisador Francisco Pithon. “E ele vivia a reboque de Pithon para ter um cinema para exibir os filmes para os convidados dele” lembra o crítico musical. As sessões, nas quais eram exibidas filmes de vários países, recebiam mais de mil convidados.

Sessão cultura e informação

De acordo com o cineasta Cláudio Marques, diretor do Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, as sessões organizadas por Walter da Silveira eram grandiosas e repletas de informações até então ignoradas pelos baianos. “Ele exibiu filmes da Tchecoslováquia, filmes japoneses... E sempre ele falava antes das sessões, então tinha muito conteúdo, muita conversa. Foi uma cinefilia que ele ajudou a desenvolver aqui em Salvador”, afirma.

É importante ressaltar que Walter da Silveira trazia filmes da Nouvelle Vague francesa e tcheca e filmes orientais para a província de Salvador em meados do século 20, tempo em que havia muita dificuldade para saber o que acontecia em outras partes do mundo.

Inquietude intelectual

Para Cláudio Marques, Walter da Silveira não se contentava em estar bem informado. “Ele queria ver o desenvolvimento intelectual da nossa cidade através do cinema. Através das revistas da época, que demoravam muito para chegar, ele ia se informando e, por meio dos consulados, das embaixadas, ele ia conseguindo os filmes para exibir no Brasil”, afirma.

Enquanto a gente se pergunta onde estão os representantes atuais dessa busca incessante pela cultura, é bom não esquecer que na Bahia houve um intelectual apaixonado pela participação do cinema na formação de outros intelectuais. “Uma das coisas importantes é que pudéssemos sempre manter viva a memória”, diz Sant’Ana. Já Marques ressalta a valorização de um ícone do cinema baiano. “Estou muito feliz que a gente esteja lembrando do centenário de Walter da Silveira. Não podemos perder essa referência”, afirma.