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Filha do porteiro, estudante de 14 anos é vítima de ataques racistas em grupo do colégio Portinari

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Filha do porteiro, estudante de 14 anos é vítima de ataques racistas em grupo do colégio Portinari

A menina, que é negra e moradora da periferia, foi atacada por um colega da mesma idade

Filha do porteiro, estudante de 14 anos é vítima de ataques racistas em grupo do colégio Portinari

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por: Tailane Muniz no dia 18 de novembro de 2021 às 11:44

Uma adolescente de 14 anos foi vítima de uma série de insultos racistas por meio de mensagens enviadas em um grupo que reúne estudantes do Colégio Cândido Portinari, localizado no bairro do Costa Azul, em Salvador. A menina, que é negra e moradora da periferia, foi atacada por um colega da mesma idade — juntos, cursam o 8º ano na instituição privada. 

As ofensas chocam pela naturalidade com que são expressadas: "Vamos fazer uma vaquinha pra te tirar da favela. Debaixo da ponte já serve", diz aos risos o jovem, pouco depois de insinuar que o pai da garota, porteiro do colégio, é assaltante. "Na favela não tem só coisa ruim, não", defende-se a vítima, ainda na tentativa de orientar o colega. Sem sucesso. Em outro momento, ele questiona o que vai ser do "futuro" dela e relaciona o destino da menina à prática de crimes: "Você não tocou numa arma, até então".

As mensagens, trocadas no último sábado (13), incomodaram uma outra estudante. A menina mostrou à mãe a série de prints que explicitam os preconceitos racial e social sofridos pela colega, que é bolsista no Portinari. O Metro1 procurou a direção da escola, que classificou o ato como "inaceitável" e informou que vai aplicar "medidas disciplinares aos alunos que participaram" das agressões.

À reportagem, a mãe da menina que fez os prints, conta, em anonimato, que alertou a filha sobre a importância do tema depois que tornou-se público um caso similar, ocorrido no Colégio Sartre.

"Minha filha já havia observado o preconceito contra a garota, por ser filha do porteiro, por morar na periferia. Fiquei estarrecida ao ler aquelas coisas horríveis, tão pesadas. Infelizmente, eles [os estudantes] ouvem dos pais, em casa, e eu quero que ele, o porteiro da escola, saiba que nem todo pai é conivente com isso", diz. A mãe da adolescente afirma que outros pais também tiveram acesso às mensagens, mas não demonstraram a intenção de levar ao conhecimento da escola.
 
Dois trechos da conversa soaram à mãe os mais chocantes. O primeiro, quando o garoto, em um áudio, ironiza o programa social 'Minha Casa, Minha Vida'. E o momento em que, ao tentar relativizar o que havia dito, ele afirma que "foi só dessa vez". "E ela responde: 'Pra você, foi só dessa vez, para mim é mais uma'. Foi emblemático ler isso de uma menina dessa idade. Ou seja, ela e o pai dela lidam com isso. O quanto disso eles não engolem? E até quando?", indaga a mulher.

A mãe, que chega a chorar durante a entrevista, repreende a violência direcionada à jovem e reforça que sente muito pelos pais que não compreendem que a orientação dos próprios filhos deve ser feita primeiro por eles, dentro de casa.

Na edição desta quinta-feira (18), o Jornal da Metropole traz reportagem que conta a história de uma professora negra que, ao apresentar aos alunos a coleção de contos 'Olhos D'água', da premiada escritora mineira Conceição Evaristo, acabou hostilizada pelos alunos e afastada da turma por decisão da direção do Colégio Vitória Régia, no Cabula.

Pesquisadora da Diretoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis do Instituto Federal da Bahia (Ifba), a socióloga Marcilene Garcia defende que há um contexto político favorável à cultura do ódio às minorias. “Com o avanço das ações afirmativas, as pessoas passaram a ver gente negra, ainda que sub-representada, ocupar espaços que nunca ocupou”.