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Seis meses após tragédia na Igreja do Ouro, nenhum dos 12 templos interditados em Salvador foi reaberto
Embora a maioria seja tombada pelo Iphan, nenhum dos 12 espaços interditados obteve liberação para ser reaberto

Foto: Fernando Vivas (P)/Folhapress
O apelido de “Cidade das Igrejas” é um dos mais antigos da capital baiana. São 589 templos, segundo a Arquidiocese de São Salvador da Bahia — muito mais que “uma para cada dia do ano”, como diz a lenda popular. Mas a história e o apelido não garantem a conservação das igrejas soteropolitanas. Desde o desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, em fevereiro deste ano, diversos espaços foram denunciados por riscos estruturais, e uma espécie de "operação emergencial" levou à interdição total ou parcial de 12 dessas quase 600 igrejas. O número foi levantado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) a pedido do Metro1 e não diz respeito a todos os templos fechados.
A lista permanece exatamente a mesma desde maio, quando a Igreja da Sagrada Família foi interditada e fechou o conjunto de imóveis apontados pelo órgão. Ou seja, seis meses se passaram e nenhum dos templos foi reaberto após reparos.
A tragédia na Igreja de São Francisco — que deixou uma turista paulista morta — jogou luz sobre a situação dos templos na capital baiana. No mesmo mês do desabamento, além da chamada “igreja do Ouro”, outras nove igrejas foram interditadas por risco estrutural. Depois a velocidade da "força tarefa" foi reduzindo e apenas mais duas foram fechadas em abril e maio.
Na lista de interdições estão a Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem; Igreja Nossa Senhora da Ajuda; Igreja e Convento dos Perdões; Igreja de São Bento da Bahia; Igreja da Ordem Terceira do Carmo; Igreja Nossa Senhora da Conceição da Lapa; e a Capela Sagrada Família, todas completamente interditadas.
A Igreja de São Miguel, a Igreja dos Aflitos e a Igreja dos Quinze Mistérios também seguem fechadas. Elas chegaram a passar por nova vistoria, mas a Codesal notificou para manter o bloqueio total.
O Convento Santa Clara do Desterro aparece na relação como parcialmente interditado. Já a Igreja de São Francisco, palco da tragédia de fevereiro, segue fechada para visitação.
Igrejas interditadas:
- Igreja Boa Viagem (interditada em 11/02/2025 e tombada)
- Igreja dos 15 Mistérios (interditada em 10/02/2025)
- Igreja da Ajuda (interditada em 10/02/2025 e tombada)
- Igreja de São Francisco (interditada em 07/02/2025 e tombada)
- Igreja de São Miguel (interditada em 10/02/2025 e tombada)
- Igreja dos Perdões (interditada em 12/02/2025 e tombada)
- Igreja de São Bento (interditada em 14/02/2025 e tombada)
- Igreja da Ordem Terceira do Carmo (interditada em 10/02/2025 e tombada)
- Igreja Nossa Senhora da Lapa (interditada em 24/02/2025 e tombada)
- Igreja da Sagrada Família (interditada em 16/05/2025)
- Igreja dos Aflitos (interditada em 24/04/2025)
- Igreja Santa Clara do Desterro (interditada parcialmente em 13/02/2025 e tombada)
Tombadas, mas fechadas
A de São Miguel especificamente recentemente precisou até ter seus móveis retirados por precaução em caso de agravamento na situação. Ela e outras oito da lista são tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), incluindo a Igreja do Ouro, que teve parte de seu teto desabado.
No episódio da Igreja de São Francisco, houve um desentendimento entre a administração do templo e o Iphan. Enquanto o instituto e o Ministério da Cultura alegavam que não tinham conhecimento da falta de manutenção na igreja, o responsável pelo imóvel, frei Pedro Júnior Freitas da Silva, afirmou que chegou a comunicar o Iphan e pedir vistoria, mas ele próprio não tinha conhecimento técnico para saber se o caso era ou não emergencial.
Muita burocracia e pouco recurso
Na prática, o Iphan não é responsável por obras de conservação e restauração. Ele, na verdade, fiscaliza, notifica, orienta e autoriza as reformas - que são de responsabilidade dos proprietários. Só que o que muitos deles reclamam é, além da falta de recursos, dos entraves burocráticos e da morosidade dos órgãos. A igreja da Ajuda, por exemplo, foi interditada após o desabamento da Igreja do Ouro, mas a situação já era relatada há pelo menos três anos, inclusive com acionamento dos órgãos competentes. A interdição só ocorreu depois do desastre na igreja vizinha.
Não são só os proprietários que reclamam de falta de recursos. Em entrevista à Metropole em agosto, o superintendente do Iphan, Hermano Queiroz, falou sobre os custos de obras nesses patrimônios. Um exemplo citado por ele foi o caso da Igreja São Francisco de Assis, cuja obra teria um custo estimado de pelo menos R$ 100 milhões, enquanto o orçamento anual do Iphan nacional não chega a esse valor. “Sozinho, o Iphan, com os recursos e o número de servidores que tem, não consegue manter um patrimônio tão extenso e complexo como o da Bahia”, disse à época.
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