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Seis meses após tragédia na Igreja do Ouro, nenhum dos 12 templos interditados em Salvador foi reaberto

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Seis meses após tragédia na Igreja do Ouro, nenhum dos 12 templos interditados em Salvador foi reaberto

Embora a maioria seja tombada pelo Iphan, nenhum dos 12 espaços interditados obteve liberação para ser reaberto

Seis meses após tragédia na Igreja do Ouro, nenhum dos 12 templos interditados em Salvador foi reaberto

Foto: Fernando Vivas (P)/Folhapress

Por: Ana Clara Ferraz e Mariana Bamberg no dia 02 de dezembro de 2025 às 13:22

Atualizado: no dia 02 de dezembro de 2025 às 17:35

O apelido de “Cidade das Igrejas” é um dos mais antigos da capital baiana. São 589 templos, segundo a Arquidiocese de São Salvador da Bahia — muito mais que “uma para cada dia do ano”, como diz a lenda popular. Mas a história e o apelido não garantem a conservação das igrejas soteropolitanas. Desde o desabamento de parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, em fevereiro deste ano, diversos espaços foram denunciados por riscos estruturais, e uma espécie de "operação emergencial" levou à interdição total ou parcial de 12 dessas quase 600 igrejas. O número foi levantado pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) a pedido do Metro1 e não diz respeito a todos os templos fechados.

A lista permanece exatamente a mesma desde maio, quando a Igreja da Sagrada Família foi interditada e fechou o conjunto de imóveis apontados pelo órgão. Ou seja, seis meses se passaram e nenhum dos templos foi reaberto após reparos.

A tragédia na Igreja de São Francisco — que deixou uma turista paulista morta — jogou luz sobre a situação dos templos na capital baiana. No mesmo mês do desabamento, além da chamada “igreja do Ouro”, outras nove igrejas foram interditadas por risco estrutural. Depois a velocidade da "força tarefa" foi reduzindo e apenas mais duas foram fechadas em abril e maio.

Na lista de interdições estão a Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem; Igreja Nossa Senhora da Ajuda; Igreja e Convento dos Perdões; Igreja de São Bento da Bahia; Igreja da Ordem Terceira do Carmo; Igreja Nossa Senhora da Conceição da Lapa; e a Capela Sagrada Família, todas completamente interditadas.

A Igreja de São Miguel, a Igreja dos Aflitos e a Igreja dos Quinze Mistérios também seguem fechadas. Elas chegaram a passar por nova vistoria, mas a Codesal notificou para manter o bloqueio total.

O Convento Santa Clara do Desterro aparece na relação como parcialmente interditado. Já a Igreja de São Francisco, palco da tragédia de fevereiro, segue fechada para visitação.

 

Igrejas interditadas:

  • Igreja Boa Viagem (interditada em 11/02/2025 e tombada)
  • Igreja dos 15 Mistérios (interditada em 10/02/2025)
  • Igreja da Ajuda (interditada em 10/02/2025 e tombada)
  • Igreja de São Francisco (interditada em 07/02/2025 e tombada)
  • Igreja de São Miguel (interditada em 10/02/2025 e tombada)
  • Igreja dos Perdões (interditada em 12/02/2025 e tombada)
  • Igreja de São Bento (interditada em 14/02/2025 e tombada)
  • Igreja da Ordem Terceira do Carmo (interditada em 10/02/2025 e tombada)
  • Igreja Nossa Senhora da Lapa (interditada em 24/02/2025 e tombada)
  • Igreja da Sagrada Família (interditada em 16/05/2025)
  • Igreja dos Aflitos (interditada em 24/04/2025)
  • Igreja Santa Clara do Desterro (interditada parcialmente em 13/02/2025 e tombada)

Tombadas, mas fechadas

A de São Miguel especificamente recentemente precisou até ter seus móveis retirados por precaução em caso de agravamento na situação. Ela e outras oito da lista são tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), incluindo a Igreja do Ouro, que teve parte de seu teto desabado.

No episódio da Igreja de São Francisco, houve um desentendimento entre a administração do templo e o Iphan. Enquanto o instituto e o Ministério da Cultura alegavam que não tinham conhecimento da falta de manutenção na igreja, o responsável pelo imóvel, frei Pedro Júnior Freitas da Silva, afirmou que chegou a comunicar o Iphan e pedir vistoria, mas ele próprio não tinha conhecimento técnico para saber se o caso era ou não emergencial.

Muita burocracia e pouco recurso

Na prática, o Iphan não é responsável por obras de conservação e restauração. Ele, na verdade, fiscaliza, notifica, orienta e autoriza as reformas - que são de responsabilidade dos proprietários. Só que o que muitos deles reclamam é, além da falta de recursos, dos entraves burocráticos e da morosidade dos órgãos. A igreja da Ajuda, por exemplo, foi interditada após o desabamento da Igreja do Ouro, mas a situação já era relatada há pelo menos três anos, inclusive com acionamento dos órgãos competentes. A interdição só ocorreu depois do desastre na igreja vizinha.

Não são só os proprietários que reclamam de falta de recursos. Em entrevista à Metropole em agosto, o superintendente do Iphan, Hermano Queiroz, falou sobre os custos de obras nesses patrimônios. Um exemplo citado por ele foi o caso da Igreja São Francisco de Assis, cuja obra teria um custo estimado de pelo menos R$ 100 milhões, enquanto o orçamento anual do Iphan nacional não chega a esse valor. “Sozinho, o Iphan, com os recursos e o número de servidores que tem, não consegue manter um patrimônio tão extenso e complexo como o da Bahia”, disse à época.