Jornal Metropole
Da faísca ao fogo: Como o Boca de Brasa incendeia a cultura de Salvador há quatro décadas

Durante a Ditadura Militar, tanto governadores quanto prefeitos das capitais eram nomeados e não eleitos.
Foto: Acervo pessoal
Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 23 de junho de 2022
Em 1975, em pleno regime militar, assume o governo da Bahia Roberto Santos que nomeou o advogado e seu assessor na Universidade da Bahia, Jorge Hage para o posto de prefeito de Salvador. Na época, tanto governadores quanto prefeitos das capitais eram nomeados e não eleitos.
Roberto Santos nomeou, com a aprovação da Assembleia Legislativa Jorge Hage para dirigir a capital. Hage, profissional digno e etico, enfrentou muitas resistências da elite baiana ao tentar cobrar o IPTU de uma forma justa. Com isso conseguiu ser combatido ferozmente pelo jornal A Tarde, na época poderoso e porta voz do reacionarismo local.
Jorge Hage caiu quando insistiu na remoção de uma favela, Novo Marotinho, enfrentando até a Igreja Católica, representada na época pelo cardeal D. Avelar Brandão Vilela.
Para o lugar dele, Roberto Santos escalou Fernando Wilson Magalhães, que era um deputado federal com pouca experiência executiva. E que chegou à Prefeitura depois de ter assumido, com o governador, o compromisso de não se candidatar a nada, de desistir da reeleição para a Câmara Federal, de modo a permanecer no cargo até o fim do mandato.
Fernando Wilson não cumpriu o acertado. Logo que assumiu a Prefeitura, entusiasmou-se, mas não com a gestão da cidade, e sim com a perspectiva de usar o cargo em função de sua volta à Câmara Federal e acabou por transformá-la em seu grande comitê eleitoral.
A cidade ficou cheia de obras que não terminavam nunca. Obras em locais importantes para a vida comercial e canais de transportes como na Baixa dos Sapateiros, na Avenida San Martin, etc. E, como essas obras jamais se concluíam, o desgaste era muito grande. Além disso, a coleta de lixo estava um horror.
Em seguida, Fernando Wilson se desincompatibilizou do cargo para se candidatar a deputado federal. E Roberto Santos se viu obrigado a nomear um prefeito-tampão, que foi Edvaldo Brito, que foi o primeiro negro a ocupar a Prefeitura de uma cidade de maioria negra.
Mas o tempo era curto, a Prefeitura estava totalmente desmoralizada e Edvaldo fez tudo o que pode, com grande esforço, no pouco tempo e com escassos recursos, mas marcou sua curta administração pelo empenho e dedicação que abriu caminhos políticos importantes para ele.
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