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Com nova gestão, professores da Ucsal têm pagamentos atrasados e alunos sofrem consequências da crise
Docentes demitidos em massa suplicam à universidade o pagamento das indenizações e estudantes denunciam falta de transparência sobre mudanças
Foto: Tacio Moreira/Metropress
Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 2 de fevereiro de 2023
Pagamentos atrasados, direitos sonegados, promessas descumpridas e apelos ignorados. Nos últimos meses, professores e alunos da Universidade Católica do Salvador (Ucsal) têm denunciado uma série de condutas que contrariam os valores cristãos pregados pela instituição.
O imenso volume de queixas explodiu após o processo de venda da universidade para a empresa Ecossistema Brasília Educacional, iniciado em julho do ano passado. A Ucsal se vendeu para evitar a falência, já que acumulava, sem controle, altas dívidas.
Com a crise, dezenas de docentes foram demitidos em massa entre o fim do semestre retrasado e agosto de 2022. Um grupo de 60 ex-colaboradores chegou a suplicar ao Cardeal Arcebispo Primaz do Brasil Dom Sergio da Rocha (autoridade máxima da instituição), uma solução urgente – apelando aos princípios do cristianismo.
Na carta aberta, os profissionais afastados bruscamente, sem justa causa, expõem a falta de direitos trabalhistas, uma vez que até hoje nenhum recebeu as indenizações previstas por lei. Além disso, mencionam problemas psicológicos e dificuldades financeiras causadas pelo “massacre” do corpo docente, que já vinha sofrendo há anos com a diminuição e o atraso constante dos salários.
Professor de História na Ucsal durante 43 anos, Fábio Paes foi surpreendido ao ser demitido em julho de 2022. Na ocasião, a empresa garantiu que ele receberia o pagamento dos direitos, inclusive dos que já estavam em atraso, no prazo de 30 dias. Mas já passaram-se seis meses e ele não recebeu um centavo sequer.
“O caminho que estou trilhando é de ir à Justiça do Trabalho para receber meus direitos trabalhistas e denunciar à sociedade baiana o atual estágio de degradação da Ucsal, que está agindo de forma inumana, tentando aplicar um calote nos seus professores demitidos”, lamentou Paes.
No documento direcionado a Dom Sergio da Rocha, os docentes pediram ao líder da Igreja Católica e Grão-Chanceler da Ucsal para “não compactuar com as irregularidades, com a falta de respeito à legislação trabalhista, e, sobretudo, com o modo de tratamento cruel e degradante, que afronta os princípios cristãos defendidos pela Igreja, bem como os direitos humanos”.
Um mês e 15 dias se passaram desde a divulgação da súplica por respeito. Todos os professores ainda esperam uma reparação. Já a Igreja continua em “silêncio sepulcral” – como descreveu o Movimento de Professores Demitidos.
A ruína não se limita ao corpo docente. Alunos da Ucsal protagonizaram um ato contra a instituição no último dia 24, em frente à portaria do campus em Pituaçu. A ação, segundo os discentes, foi uma resposta aos prejuízos causados pela má gestão da universidade, bem como uma forma de tentar contato com a reitoria — acusada por eles de ignorar os seus apelos.
“Um dos principais problemas é a falta de diálogo da universidade conosco. Decisões são tomadas sem que sejamos devidamente informados. Quando nós sabemos, a coisa já está andando”, explicou a estudante de Letras, Yasmin Ramos, de 20 anos.
Marcela Santos, 26, aluna do curso de Serviço Social, também citou inconsistências relacionadas à matrícula, ao funcionamento do novo portal online e ao canal de comunicação da instituição. “Não respondem. Aí tem que abrir requerimento, mas não recebem”, expôs.
As estudantes ainda mencionaram a lotação das turmas, com várias disciplinas ministradas pelos mesmos professores.
No site Reclame Aqui, foram registradas 251 reclamações sobre a Ucsal. Entre as mensagens não respondidas, a maioria indica a dificuldade de contato com a instituição.
Após a manifestação, a reitora Roberta Gontijo se reuniu com os alunos no último dia 26. Yasmin contou que, no encontro, a regente reconheceu os transtornos e se comprometeu a tentar resolver as demandas reivindicadas.
Já a Ucsal, procurada pela reportagem, negou a falta de diálogo e afirmou que, ao longo do segundo semestre de 2022, foram realizadas sete edições do “Diálogos com a Reitoria”. Nos eventos, porém, os problemas levantados não teriam sido solucionados.
Sobre as verbas rescisórias dos professores demitidos, a instituição afirmou que “está se empenhando, ao máximo, para a superação das dificuldades”. O resultado do empenho, no entanto, ainda não foi vislumbrado pelos trabalhadores.
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