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JM recupera entrevista da diva dos musicais brasileiros, Bibi Ferreira, concedida a Mário Kertész
Bibi Ferreira morrei aos 96 anos, em 2019, em um dia de fevereiro no Rio de Janeiro
Foto: Reprodução/Arquivo TV Brasil
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de julho de 2025
Diva dos musicais brasileiros, a atriz e cantora Bibi Ferreira costumava se dizer uma baiana que nasceu no Rio de Janeiro por um erro na sua carteira de identidade. No comecinho da noite de 17 de outubro de 2004, mesmo dia em que recebeu de Ricardo Cravo Albim a notícia de que havia ganhado por unanimidade o prêmio Golfinho de Ouro, Bibi foi entrevistada por Mário Kertész na Rádio Metropole. Em um bate-papo de quase uma hora, os dois cantaram, riram, compartilharam a admiração pela cantora francesa Édith Piaf e relembraram a infância e a carreira de Bibi.
MK: Bibi, vamos começar contando um pouquinho do início da sua carreira artística: a sua família, seu pai, sua mãe, famosos, sobretudo seu pai, grande Procópio Ferreira. Como você começou a sua vida artística?
BF: Embora pareça até mentira, eu comecei a minha carreira com três semanas de idade, 21 dias, por aí. Você não conhece essa história?
MK: Não.
BF: É muito bonitinha. O meu pai, ainda não era conhecido, trabalhava como um dos últimos atores, muito mal pago, em uma companhia de teatro que veio a ser de minha madrinha, Dona Abigail Maia, casada com Oduvaldo Viana, que foi meu padrinho. Eram um casal magnífico do teatro no qual papai estava começando e mamãe estava, claro, sempre acompanhando. Então, na peça 'Manhãs de Sol', em que minha madrinha cantava e representava muito bem, faltou uma boneca para ser a filhinha dela em cena, então ficou aquela correria no bastidor, "meu Deus, está faltando a boneca, como vai ser? Aquela doideira,"mas, espere aí, tem a filhinha do Procópio, daquele rapazinho que estreou aí outro dia'. Então não tiveram dúvida, mamãe estava me segurando lá, aí Dona Abigail me pegou e eu entrei em cena pela primeira vez no teatro João Caetano, antigo Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro, com três semanas de nascida.
MK: Que história fantástica! Agora, onde você arranja tanta energia? Até sua voz é enérgica, forte, firme, alegre.
BF: Eu acho que é a vida simples que eu levo. Saio pouco, só saio para trabalhar e trabalho muito. Mas a única tragédia minha, Mário, que ninguém nos ouça, é que eu gosto muito de comer, e de comer errado. Quando eu vou à Bahia, saio direto do aeroporto e, na primeira baiana que eu passar, paro e digo, ‘quero, quero quente sim meu acarajé’.
MK: Que maravilha. Agora, Bibi, para o palco mesmo, você foi com quantos anos?
BF: Aí é uma história muito engraçada, porque eu só estudava música, não tinha muitas ambições. Quando eu tinha 17 anos, papai já era famoso há muito tempo. Meu Deus do céu, papai divertiu o mundo inteiro e, mesmo sendo um grande ator, ele não estava muito bem de vida e tinha vontade de dar um boom', fazer uma coisa grandiosa, que pudesse chamar atenção da mídia. Daí pensou: ‘estrear a Bibi no palco’. Só que Bibi estava muito dentro de casa, com a mamãe, vovó, titia, estudando muito, quando chega um telegrama de meu pai para mamãe - ele estava em São Paulo e nós estávamos no Rio - , dizendo: ‘que achas de estrearmos Bibi na próxima temporada no teatro Serrador? E no dia 28 de fevereiro de 1941, eu realmente estreava no Teatro Serrador do Rio de Janeiro, com uma peça clássica italiana de Goldoni, e daí deslanchou. Eu não tinha a mínima idéia do que era teatro, mas Deus me deu muita coisa boa, inclusive uma dicção é muito boa.
MK: É ótima.
BF: A minha projeção é boa, então já nasci, mais ou menos, com o meu instrumento preparado, e na peça fiz um grande sucesso logo de início. Trabalhei com papai durante três anos, do terceiro para o quarto ano papai abriu a minha companhia dizendo: ‘está aberta a filial"’.
MK: (risadas) Que maravilha! Agora, Bibi, você casou seis vezes foi?
BF: Cinco. Mas morreram, não é? Foram morrendo. Não foi assim, casa, larga um, casa com outro, larga um, casa com outro, não. As pessoas foram, infelizmente, falecendo, saindo da minha vida normalmente, outros saindo porque se apaixonaram. Porque eu sempre digo que casamento é uma questão de talento, só que os dois têm que ter o mesmo talento. Têm de ver o casamento do mesmo jeito, com os mesmos caminhos. Hoje em dia eu acho que a gente está casando muito no ‘vamos ver no que vai dar'. Não, tem que dar certo.
BF: Agora, tem uma coisa muito interessante para lhe contar. Todo mundo pensa que eu nasci no Rio, não é? Não. Pelo que me consta, eu nasci no Rio, porque eu não lembro desse dia. Filha de Procópio Ferreira e Aida Ferreira, me chamo Abigail Ferreira, e tenho uma carteira de identidade com data de expedição do dia 25 de março de 94, mas dito assim, naturalidade: Bahia. Eu sou a única pessoa que nasceu no Rio e é baiana.
*Bibi Ferreira morreu aos 96 anos, em 2019, em um dia de fevereiro no Rio de Janeiro
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