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Com 86 resgates em 10 anos, trabalho análogo à escravidão se infiltra em obras, casas e ruas de Salvador e RMS

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Tragédias previstas: Episódios de incêndio e desabamento, dias após denúncia do JM, confirmam colapso no bairro
No último dia 10 de julho, exatos sete dias após o JM expor a situação, um incêndio atingiu um casarão abandonado no bairro e acabou se alastrando para outros dois imóveis
Foto: Leitor Metro1
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de julho de 2025
Poderiam até dizer que esse Jornal Metropole é uma nova ferramenta substituta das cartas de tarô e bola de cristal diante da precisão dos alertas feitos nessa página. Não se passaram nem duas semanas depois que a capa estampou e denunciou o colapso no bairro do Comércio, para que dois episódios seguidos expusessem o cenário de abandono na região.
No último dia 10 de julho, exatos sete dias após o JM expor a situação, um incêndio atingiu um casarão abandonado no bairro e acabou se alastrando para outros dois imóveis. As primeiras informações dão conta de que o fogo teria sido iniciado por invasores que queimaram fios no interior do prédio. Foram mais de 40h para apagar o fogo e restou risco de colapso nas edificações.
À espera da queda
Mas o risco já existia e também já havia sido denunciado pelo Jornal Metropole. Segundo a Defesa Civil de Salvador, o antigo centro empresarial da cidade soma 259 imóveis com risco de desabamento. Entre eles, 18 são considerados com grau muito elevado de risco. Um deles era o prédio da antiga loja A Lâmpada, que foi um dos atingidos pelo incêndio e, cinco dias após o fogo ser apagado, teve um desabamento parcial interno.
O próprio Diretor da Codesal, Sósthenes Macedo, não viu o colapso como surpresa, afinal são edificações antigas com muito material em madeira. A demolição do imóvel, segundo ele, já foi autorizada pelos órgãos de tombamento.
Demolir para não recuperar
Essa provável demolição poderia ter sido evitada há alguns meses. Isso porque o edifício da antiga A Lâmpada foi alvo de uma batalha judicial entre o proprietário, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a União. A Justiça Federal decidiu que a responsabilidade de desenvolver e executar um projeto de recuperação é do instituto, mas, 18 meses após a determinação, nenhuma medida havia sido tomada. A Justiça chegou a dar um prazo de 60 dias - que acabaria no próximo sábado (2) - para que o Iphan adotasse medidas efetivas para preservar o imóvel. Até houve tempo, mas faltou ação.
Prejuízo para todo lado
Durante esse período de risco do imóvel, uma via precisou ser interditada por conta da iminência de desabamento. O prejuízo para o patrimônio da cidade atinge também a economia local já tão fragilizada pelos anos de colapso no bairro. Em entrevista ao Repórter Metropole, um comerciante da região relatou prejuízos significativos. “Caiu 75% da movimentação em minha loja depois que fecharam a rua. Estou em um lugar que não passa ninguém. Como um comerciante vai trabalhar em um lugar que não passa ninguém? Vai vender como?”, questiona.
A sequência de ocorrências evidencia a urgência de medidas efetivas no bairro que já foi o coração financeiro de Salvador e hoje acumula promessas não cumpridas.. A cada nova rachadura, incêndio ou desabamento, o que cede não é apenas concreto, mas também a memória e a esperança de resgate do centro antigo da capital baiana.
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