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Apesar da alta na popularidade de Lula, Planalto prega cautela e mobilização constante contra tarifaço de Trump

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Por Jairo Costa Júnior

Notícias exclusivas sobre política e os bastidores do poder

Apesar da alta na popularidade de Lula, Planalto prega cautela e mobilização constante contra tarifaço de Trump

Líderes do PT consideram muito cedo para comemorar e alertam para riscos de queimar combustível antes do tempo; ordem no núcleo duro da Presidência é se movimentar em harmonia com a estratégia adotada pela comunicação do governo

Apesar da alta na popularidade de Lula, Planalto prega cautela e mobilização constante contra tarifaço de Trump

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Por: Jairo Costa Jr. no dia 15 de julho de 2025 às 19:29

Embora sondagens de consumo interno e a nova pesquisa do instituto AtlasIntel tenham detectado a reversão na curva de impopularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma alta na avaliação positiva do petista acima da margem de erro após o tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, lideranças do PT com trânsito livre no Palácio do Planalto garantem que o núcleo duro do governo federal recomendou cautela aos aliados e alertou sobre a necessidade de manter a mobilização nas redes sociais e na imprensa de acordo com a estratégia traçada pela comunicação da Presidência. "Os números são bons, trazem alívio, claro, mas ainda é muito cedo para falar em guinada. Precisamos agir de modo cerebral para não perder a chance que surgiu de virarmos o jogo", resumiu um cardeal governista consultado pela Metropolítica, ao reforçar a determinação do andar de cima.     

Visão de camarote
Parte das fontes ouvidas pela coluna considera um erro colocar a linha de frente do Planalto para politizar a crise gerada pela decisão de Trump de taxar os produtos brasileiros em 50% e acha que o governo Lula acertou ao tratar o tema de forma sóbria. "Esse é um risco que, de fato, não devemos correr. Até porque os trackings diários de monitoramento feitos pela Secom (Secretaria de Comunicação Social (Secom) mostram que o ônus pelo tarifaço caiu por osmose no colo da família Bolsonaro e de seus aliados e que Lula tem agido de modo correto na defesa do país", acrescentou um experiente parlamentar petista, para quem a ofensiva da Casa Branca provocou uma inédita ojeriza do grande empresariado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Esse é outro trunfo inesperado. O governo agora só precisa não errar na condução do processo para reabrir pontes com um setor que se distanciou bastante do presidente", emendou.

Causa e consequência
Políticos baianos que compõem a tropa de choque de Lula no Congresso Nacional reconhecem o impacto positivo que a tática adotada no duelo com Trump gerou sobre a popularidade do presidente, tendência corroborada também pela nova pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta terça-feira (15). Contudo, atribuem a mudança de cenário a dois outros movimentos no xadrez político. O primeiro foi a campanha baseada no mote 'Taxação dos BBBs - Bets, Bancos e Bilionários', disseminada pela militância virtual da esquerda após a derrota do governo na batalha travada com o centrão, cujo resultado levou à derrubada dos decretos do IOF. Em suma, conseguiu transformar limão em limonada e colocar deputados e senadores na panela de pressão popular. Conforme apurou a coluna, as sondagens encomendadas pelo Planalto já indicavam sinais de recuo na avaliação negativa de Lula no rastro dos pobres contra ricos.

Novo Lula das antigas
O segundo movimento diz respeito à mudança de postura do presidente. Até então, Lula evitava adotar um tom mais duro frente aos ataques de adversários, sejam internos ou externos. "Agora, você pode observar um Lula fora das cordas, mas sem ceder a desequilíbrios verbais e sem dar brechas para polêmicas fabricadas. Ele parece mais próximo daquele líder que emergiu depois do escândalo do mensalão e que sempre esteve presente em momentos de crise aguda. É prova de que Lula, quanto mais acuado, melhor sabe agir", ponderou um antigo aliado de Lula no PT da Bahia. 

Plano de combate
Membros graduados do governo federal afirmam ainda que a bravata de Donald Trump não poderia vir em melhor hora, mas a distância para o pleito de 2026 exige mobilização constante e ações em frentes múltiplas para não queimar combustível antes do tempo. O que inclui acertos de gestão e estratégia bem pensada para a batalha de narrativas nas redes. A avaliação é de que, se o tarifaço fosse imposto pelos Estados Unidos em abril do ano que vem, Lula chegaria embalado para a próxima corrida presidencial. "Sobretudo, porque o centrão tende a se recompor com o Planalto para abrandar a pressão sobre o Congresso e esfriar a agenda dos ricos contra os pobres. Por isso, é fundamental que Lula mantenha a postura atual até as eleições. Recuar agora, penso eu, não é opção. O que não significa agir com o fígado, mas com o cérebro", analisou um auxiliar direto do presidente.

Efeito colateral
No outro polo da disputa de poder no Brasil, lideranças da bancada baiana que fazem oposição ao governo Lula admitem que o saldo positivo do cabo de guerra com Trump ficou inteiramente com o presidente e que os políticos da direita e da extrema-direita, até o momento, saíram menor do que entraram. "A reação contrária do empresariado ao comportamento dos Bolsonaro de incitar o tarifaço em benefício próprio, de olho em uma anistia, a divisão causada pelos ataques de Eduardo Bolsonaro (deputado federal licenciado pelo PL de São Paulo) a Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo pelo Republicanos) e a unidade do eleitorado mais ao centro em defesa da soberania do país, com forte impacto nas redes sociais foram efeitos inesperados e, por ora, causaram estragos para nosso campo. É possível reverter? Sim, mas não sabemos ainda como", resumiu um parlamentar com status de liderança no bloco oposicionista.