Avanço da ofensiva da PF contra o Banco Master eleva tensão entre políticos baianos

O cerco da Polícia Federal aos dois principais personagens do escândalo financeiro envolvendo o Banco Master, o mineiro Daniel Vorcaro e o baiano Augusto Lima, o Guga, tem tirado o sono de políticos graúdos dos dois polos de poder no estado. Fontes com acesso à investigação sobre o esquema de fraudes bilionárias no Master revelaram à Metropolítica que já foram descobertas transações de alto valor feitas junto ao banco tanto por cardeais da base aliada ao PT quanto por caciques do União Brasil. De ambos os lados, segundo apurou a coluna, é grande o temor de que Vorcaro ou Lima, presos desde o último dia 18, resolvam contar à PF o que sabem.

Língua de brasa
"Quando a PF colocou Daniel Vorcaro e Guga Lima no xadrez, políticos que mantinham relações muito estreitas com eles não pararam de roer as unhas de lá pra cá. E o cenário é para isso. Sobretudo, diante de uma eventual delação. Acho ainda difícil que Guga abra o bico, mas não se pode dizer o mesmo de Daniel, que é famoso desde os tempos em que operava em Minas Gerais como uma pessoa sem compromisso com ninguém, salvo consigo próprio", relatou um influente quadro da política baiana que conhece bastante os laços entre os banqueiros e nomes da cúpula do poder no estado.

Fila ecumênica
A lista de amigos de Guga Lima na Bahia, ainda de acordo com as fontes consultadas, vai muito além do ministro da Casa Civil, Rui Costa, do senador Jaques Wagner (PT) e do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), cuja proximidade com o banqueiro, originada pelos gordos contratos de empréstimo consignado para servidores públicos do governo do estado e da prefeitura da capital, virou fato corrente no noticiário sobre o escândalo. Na relação, constam parlamentares e dirigentes de partidos como PP, PSD, PL, PSDB e Republicanos que supostamente usaram investimentos oferecidos pelo Banco Master para operar dinheiro de origem duvidosa.  

Quem tem boca vai a...       
Entre os políticos mais preocupados com possíveis desdobramentos da operação contra o Master está o ex-ministro da Cidadania João Roma, presidente do PL na Bahia. "Roma é amigo pessoal de Daniel Vorcaro, tipo unha e carne. É também próximo a Guga Lima. Foi ele, por exemplo, quem apresentou a Guga sua atual mulher, Flávia Arruda (ex-ministra-chefe da Secretaria de Governo durante parte da gestão de Jair Bolsonaro e ex-primeira-dama do Distrito Federal)", confidenciou um integrante do andar de cima da oposição ao PT no estado.

Pé na porta
O senador Ângelo Coronel (PSD) tem dito a aliados próximos que, independente de estar ou não na chapa majoritária do Palácio de Ondina para a sucessão de 2026, sua candidatura à reeleição é irreversível e ponto final. E mais, que estará no páreo pelo PSD, ainda que em palanque avulso. Só não diz se o jogo foi combinado com o presidente estadual do partido, o senador Otto Alencar, aliadíssimo do PT.

Deu zebra 
Teve surpresa, e das grandes, na eleição da lista tríplice que vai definir o próximo desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT5) na cota reservada a membros da OAB da Bahia, o chamado Quinto Constitucional. No caso, a votação expressiva obtida pela advogada Mirela Possídio. Embora não figurasse no rol de concorrentes mais fortes, Mirela teve 18 votos, mesmo número de Christianne Gurgel, tida até então como franca-favorita, e três à frente de Marcos Flávio Rhem, que também aparecia no pelotão de frente da disputa.

Bolo doido
Para juristas experientes ouvidos pela Metropolítica, a votação de Mirela embolou o jogo e deixou o resultado indefinido. Isso porque ela é casada com o advogado Cristiano Possídio, sócio do também advogado Milton Jordão, muito próximo ao PT. O que pode deixar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bem confortável para nomeá-la. Por outro lado, acrescentaram, Christianne Gurgel, apesar do apoio importante da OAB estadual e federal, pode esbarrar no fato de que seu marido, Marcos Gurgel, já é desembargador do TRT5.

Acerto de contas
A inédita prisão de militares brasileiros por tentativa de golpe, determinada nesta terça-feira (25) pelo Supremo, é um sinal de que, enfim, o Judiciário resolveu sepultar o passado de leniência com ataques ao Estado Democrático de Direito no país ao longo da história. As seguidas anistias a integrantes das Forças Armadas que investiram contra a ordem institucional serviram como matéria-prima para dois regimes totalitaristas que marcaram o século passado em um Brasil de forte tradição golpista: o Estado Novo instituído em 1937 por Getúlio Vargas e a ditadura militar que perdurou de 1964 a 1985.