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“Os mais claros eram melhor tratados”: Isabel Souza, autora de ‘Barriga Suja’, explica o racismo intrafamiliar

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“Os mais claros eram melhor tratados”: Isabel Souza, autora de ‘Barriga Suja’, explica o racismo intrafamiliar

Escritora e professora foi entrevistada na Rádio Metropole nesta quinta-feira (19)

“Os mais claros eram melhor tratados”: Isabel Souza, autora de ‘Barriga Suja’, explica o racismo intrafamiliar

Foto: Fernanda Vilas Boas/Metropress

Por: Metro1 no dia 19 de outubro de 2023 às 09:26

Atualizado: no dia 19 de outubro de 2023 às 09:49

“Nem todas as histórias de amor puderam ser vividas, inclusive, algumas de mães e filhas quando envolvidas no racismo intrafamiliar”. Essa é a frase que ilustra a capa do livro da  escritora e professora Isabel Souza, intitulado de Barriga Suja (2023)

Entrevistada na Rádio Metropole nesta quinta-feira (19), a autora explicou como o racismo compôs e permeou as suas relações familiares e compartilhou um pouco da sua história de vida, retratada no livro. Filha de uma mulher negra empregada doméstica, Isabel não foi criada pela mãe devido às exigências das patroas que não aceitavam a maternidade da trabalhadora e questões financeiras. 

A escritora foi enviada do Rio de Janeiro à Bahia para ser criada pela tia, aos sete anos, juntamente com sua irmã. A irmã era filha de um encanador de descendência espanhola, portanto, de pele mais clara. Isabel conta que a irmã seria entregue ao orfanato, mas houve uma mudança de ideia pela menina ter pele clara. “No dia que minha mãe chega para entregar a criança no orfanato, olharam  e disseram: ‘ah. é um desperdício’, porque ela era bem clarinha, bem loirinha [...] Quando minha mãe deu eu e a minha irmã, como ela muito clara, não foi parar no orfanato. Se nascesse de outra cor, iria”, comentou.

O nome da obra é inspirado no termo que utilizavam para justificar o motivo de Isabel ser negra, diferentemente de sua irmã. Ela revelou que toda a criação foi construída de maneira diferente, desde o local em que dormiam - Isabel no quarto da empregada e a irmã junto com o casal -, até o afeto que era destinado a elas. 

“Algumas famílias, infelizmente, pelo menos no meu contexto de época isso foi muito forte, quando tinha filhos aquarela brasileira, muitas cores, geralmente os mais claros eram melhor tratados, apanhavam menos para não deixar marca. E era o que diziam que vinha limpar a família. Eu cresci ouvindo ‘que pena de você sua mãe teve a barriga suja’.. E até o amor e o afeto pelo filho mais claro, a gente não é cego, a gente sabe que trata diferente”, disse. 

A obra que enreda a maneira como a miscigenação e o racismo se encontram nas famílias brasileiras, será lançada nesta quinta, das 17h às 20h, na livraria Leitura, no Shopping Salvador.

Assista a entrevista na íntegra: