Milton Hatoum critica perda de relação com natureza nas cidades: "acham lindo tapar o céu"

A verticalização desordenada das cidades brasileiras e a desconexão com a natureza foram criticadas pelo escritor e arquiteto Milton Hatoum durante o programa Três Pontos desta quinta-feira (8). Autor de romances marcados por memórias urbanas e sociais, Hatoum apontou que há um orgulho crescente em cobrir o céu com edifícios, sem qualquer planejamento urbano ou preocupação ambiental.

“Eles acham lindo tapar o céu, sabe? Banir o horizonte. É uma loucura. Não há controle nenhum”, disse o autor, ao comentar sobre a construção desenfreada de prédios, como o Platina 220, em São Paulo, que exibe uma placa se orgulhando de ser o mais alto da cidade.

Segundo Hatoum, Manaus é um exemplo claro de como as cidades brasileiras romperam com uma lógica urbana mais harmônica com o meio ambiente. Ele explicou que até os anos 1960, a capital amazonense mantinha uma convivência com a floresta e os igarapés, que eram parte do cotidiano. Com a instalação da Zona Franca e o avanço da especulação, o cenário mudou radicalmente.

“Toda a área da floresta em torno de Manaus foi devastada, foi invadida, aí construíram-se conjuntos habitacionais horrorosos. Pra você ter uma ideia, o marechal Castelo Branco, quando visitou um conjunto habitacional em Manaus, por volta de 1966, salvo engano, ele disse ‘mas isso parece um canil’. Você imagina? Casas apertadas numa área devastada, como se fosse um deserto. É um crime”, concluiu o escritor.

Confira o programa completo: