Secretária de Desenvolvimento Econômico também teve curso pago pela prefeitura de Salvador

Não foram apenas a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) e a secretária da Fazenda, Giovanna Victer, que tiveram curso caro pago pela prefeitura de Salvador. Busca feita pela Metropolítica no portal de transparência do Executivo municipal revela que a chefe da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Semdec), Mila Paes Scarton, também utilizou os cofres públicos para custear especialização em instituição de ensino superior privado, mesmo não sendo servidora de carreira do Município. No caso de Mila, a prefeitura custeou para ela um curso na Saint Paul Escola de Negócios, no valor de R$ 105 mil.

Prova dos nove 
O contrato firmado com a Saint Paul, sem exigência de licitação, foi publicado no Diário Oficial do Município de 20 de dezembro de 2023, aproximadamente três meses antes do início das aulas, em março do ano passado. De acordo com o resumo da inexigibilidade de processo licitatório divulgado pela Semdec, trata-se da contratação de direta da instituição "para viabilização dos custos do curso denominado "Advanced Boardroom Program for Women ABP-W, com carga horária de 300 horas, destinado a uma servidora da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico".

Na moita
O expediente usado por Mila Paes foi o mesmo da vice-prefeita. Ou seja, omitir o nome da beneficiária do contrato no Diário Oficial. Só foi possível descobrir quem teve o curso bancado pelos cofres públicos a partir do cruzamento de dados com as informações exibidas por Mila Paes em seu perfil no Linkedin, principal plataforma de mídia social especializada em currículos pessoais e notícias do mundo corporativo na área de negócios e emprego. No tópico referente à formação acadêmica, consta exatamente o nome da especialização feita por ela. 

Pega pelo contrapé
Indagada pela coluna se ela teve curso de especialização custeado pela prefeitura, a chefe da Semdec inicialmente negou, por meio da assessoria de comunicação social da prefeitura, e afirmou que já havia respondido isso antes. Após receber imagens do contrato assinado por ela e das informações disponibilizadas no Linkedin, Mila Paes mudou o discurso. Contudo, se limitou a  dizer que não se tratava de curso de pós-graduação,embora a Metropolítica tivesse se referido à especialização, exatamente o tipo de curso que o Tesouro municipal pagou para ela.

Classe premium 
Informações publicadas na página da Saint Paul descrevem o tal Advanced Boardroom como um programa exclusivo para mulheres, com o objetivo de "desenvolver competências técnicas e comportamentais necessárias a conselheiras e futuras conselheiras, levando em consideração novos modelos de negócios, os desafios geracionais e tecnologias emergentes". O curso faz parte do que a instituição chama de High Impact Programs, algo como Programas de Alto Impacto, voltados ao públicos C-level, termo que se refere a executivos de mais alto nível de uma empresa, e realizados em parceria com a revista Exame.

Recordar é viver
A informação de que a prefeitura estava pagando cursos de alto valor para integrantes do alto escalão do Palácio Thomé de Souza foi revelada pela primeira vez na Metropolítica em 3 de setembro deste ano. À época, a coluna noticiou que a chefe da Sefaz, Giovanna Victer, havia sido favorecida com um contrato para custear um doutorado profissional em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no valor de no valor de R$ 183 mil. Em 27 de setembro, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou a anulação do contrato, mas o distrato ainda não foi formalizado no Diário Oficial.